682-PIQUE DE ESCONDER-Brincadeiras Infantís- Memória
MINHA INESQUECÍVEL BRINCADEIRA DE MENINICE:
PIQUE DE ESCONDER
Texto Escrito a pedido de Vicente Penido.
Meu nome: ANTONIO ROQUE GOBBO, nasci em 1935 em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas Gerais.
A brincadeira de que mais gostava era o pique de esconder. Acho que era a favorita também da turma da rua onde morava, pois todas as noites, entre sete e nove horas da noite, um bando de garotos e garotas se ajuntava para brincar de pique debaixo do poste de madeira, no alto do qual uma lâmpada fraca tentava espantar a escuridão.
Éramos uns dez meninos e três meninas, de idades dentre sete e doze anos. Nas noites em que não fazia frio ou não chovia, lá estávamos para brincar de pique.
A brincadeira era muito simples: para começar, um dos participantes, escolhido por sorteio, ficava no pique e os demais corriam a se esconder. O pique era a base, o lugar combinado para a saída e chegada de todos. Para não saber onde se escondiam, e para dar tempo, quem estava no pique contava de um a vinte, ou trinta, ou o que fosse previamente estabelecido. Encostava cara na parede, de preferência num vão de porta, com as mãos no rosto, para não ver os demais.
Acabada a contagem, gritava: Lá vou eu! E saía procurando. Não podia se afastar muito do pique, porque podia acontecer de um ou outro que estivesse escondido por perto, corresse e chegasse no local, gritando: Um, dois, três, cheguei!
Normalmente, o garoto (ou a menina) saia procurando, e quando via alguém escondido, corria para o pique e gritava: Um, dois, três, Pedrinho atrás da pilha de tijolos. Ou: Um, dois, três, Soninha está na figueira.
Se estava correto, todos saiam dos esconderijos, voltavam à base e Soninha ou Pedrinho iam ficar no pique na próxima rodada. Quem ficasse tão escondido que não conseguia ser encontrado, era o ganhador da vez.
Na nossa brincadeira, o lúdico se misturava ao medo ou terror. O quarteirão onde morava a maioria dos garotos fica próximo ao Jardim Novo, que tinha sido, há mais de cinquenta anos, cemitério e dizia-se, era assombrado pelo fantasma de Maria Engomada. Com árvores frondosas e lugares escuros, tinha dezenas de locais onde se esconder. Mas havia o medo, e apenas os mais velhos (Benito, Rafael e Carlim) se atreviam a esconder naquele imenso jardim mal-assombrado. Então eram os últimos a serem encontrados, ou, como acontecia constantemente, nem eram achados. Os menores, como eu, tinham medo de entrar pelas alamedas escuras e ficavam gritando, na tentativa de acertar com os esconderijos: Benito está atrás da palmeira! Ou Rafael está em cima da caixa d’água.
Eu confesso que, quando estava no pique, nunca entrava no Jardim Novo para procurar os companheiros. Gritava de longe: Esconder no Jardim Novo não vale!
Mas valia, sim, eu é que não tinha coragem de ir lá de noite.
A gente não escutava – ou fingia que não ouvia – as nove badaladas do sino da Igreja Matriz. Era o tempo marcado para cada qual voltar à sua casa. Era preciso que um pai, mãe ou empregada viesse nos chamar:
— Tonico, Quizinho, Rafael! Vem prá casa, tá na hora de dormir.
O bando então se dispersava, marcando encontro para a noite seguinte.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 07 de agosto de 2011
Conto # 682 da SÉRIE MILISTÓRIAS