A Comunicação, as vezes, é coisa de outro mundo.
Dona Zulmira sairá de sua igreja a noite, sob uma chuva ainda fina e caminhando com pressa para chegar logo em casa, ligeira seguia o seu destino. Passou pelo moinho, pela vila do buraco cheiroso, pela padaria, pela casa do Cuia, pela praça Brasil e quando ia se aproximando da parada soturnamente vazia, em frente ao cemitério de São Jorge, foi abordada por um bandido determinado, que lhe dirigiu a seguinte palavra:
- Ei vovó passe a bolsa agora.
A senhora meio que atropelada pela pressa, pela chuva, pela sua pouca visão e pela sua limitação natural auditiva, em função da idade, sem entender muito bem a locução do bandido perguntou:
- o que você falou meu filho?
Já esclerosado, em função do medo, o bandido logo soltou:
- senhora isso é um assalto passe logo a bolsa!
Entendendo bem o que o rapaz falou ela retrucou:
- Meu filho, nesta chuva, porque você não vai para sua casa. Vá procurar estudar, procure Deus.
E o bandido não se deu por vencido e reclamou austeramente:
- Olhe dona não quero mais papo, me dê a sua bolsa, antes que...
No exato momento a única iluminação pública, que cobria aquela ação, com um vento mais forte se apagou, mas em segundos voltou.
Ele então insistiu ameaçadoramente:
- Velha me dê a bolsa, se não passo fogo!...
Ela então falou suavemente:
- Meu filho!...eu não sou do teu mundo!...
Novamente a luz se apagou e em segundos voltou, sob forte relâmpago e uma chuva mais intensa.
Nervoso por causa da ação errada, atarantado pela resistência da senhora, o bandido se assustou e gritou :
- Socorro! É uma visagem!
Por quase meia hora ninguém se atreveu a abrir a janela para ver o que motivou aquele grito de horror. O bandido entendendo as avessas o que aquela senhora falara, empalideceu e de imediato saiu em disparada rumo ao ignorado.
Sem entender direito, aquela senhora atravessou o silêncio da frente do cemitério e chegou em sua casa sem ser molestada pelo bandido, a não ser pela chuva, que já era forte em demasiada.