O SONHO BICHADO
De início devo esclarecer-lhes que não sou bicho do Paraná, entretanto, como todo animal racional, tive infância e quando era “criança pequena”, não em Barbacena, mas noutra localidade igualmente fora do mapa, porém naturalmente dentro desta imensa terra chamada Brasil, conheci uma gama de animais irracionais, os quais denominava simplesmente de bichos.
Todavia, antes de entrar no tema próprio desta narrativa, importa dizer-lhes ainda que naquela época eu ouvia frequentemente pelo rádio uma canção humorística, que assim se iniciava: “depois de comer um bom virado, eu fui dormir e tive um sonho lindo; sonhei que estava acordado, mas quando acordei, estava dormindo”.
Por falar em dormir, certa feita assisti a uma palestra de um psicanalista que afirmava serem os sonhos necessários para o nosso equilíbrio emocional, além de contribuir decisivamente para a restauração das energias físicas e mentais dissipadas durante a vigília. Para comprovar sua teoria, citava uma experiência realizada com gatos, os quais foram submetidos a um tipo de cirurgia cerebral, que os tornava impossibilitados de sonhar, de modo que pouco tempo depois todos aqueles felinos, sem exceção, haviam enlouquecidos.
Ah, esses cientistas! Com tanta coisa importante por fazer, foram logo perturbar o bom sono dos bichanos.
De qualquer forma, porém, aquela conferência trouxe-me um valioso benefício, porquanto foi com alívio que tive a certeza de que jamais ficarei louco, posto que sonho muito à noite e, às vezes, também durante o dia.
Tenho para comigo, que a pior coisa que pode suceder a um ser humano é ser ou tornar-se um maluco. Horroriza-me ver pessoas rindo à toa e falando sozinhas, sendo esta a imagem que faço da loucura, talvez porque na infância fui abordado por um desses doidos, dizendo qualquer coisa sobre anjos. Perguntei-lhe se estava rezando para algum anjo e ele me respondeu prontamente:
- Não, não, meu anjo! Sou o seu anjo da guarda e vim lhe buscar.
Escusado é dizer-lhes que desembestei para casa e fui logo perguntando à minha mãe o porquê de certas pessoas falarem sozinhas e ela me explicou que tais indivíduos vivem noutra realidade, conversando com personagens que só existem em suas próprias cabeças.
Desde então, passei a temer o fantasma da loucura e tenho mantido meu cérebro sempre ocupado, pois que assim, pelo menos é o que acredito, dificilmente captarei vozes intrusas com as quais não pretendo me comunicar.
Assim à noite, antes de me deitar, não costumo tomar refeições, nem mesmo um bom virado à paulista, que tanto aprecio, mas pelas razões expostas, tenho por hábito ler alguma coisa “light”, tal como um jornal ou revista, sem jamais esquecer a Bíblia, meu livro de cabeceira.
Exceto este último, nem sempre, porém, tenho à mão um texto apropriado e, nesse caso, leio qualquer coisa, desde gibis até trechos áridos da intrincada dialética hegeliana, visto que não conseguiria dormir sem antes cumprir o ritual que me impus há anos, com o fim de manter os neurônios em atividade e certificar-me de que estou plenamente lúcido, sendo esta a última coisa que quero ter certeza antes de conciliar o sono.
Dia desses, contudo, caiu-me às mãos uma mensagem para reflexão, que muito me impressionou, mormente por jamais ter ouvido algo parecido, em que pese ser eu um leitor voraz, como já frisei. O texto a que me refiro, além de proporcionar-me valiosa lição de vida, ao tratar da difícil convivência entre porcos-espinhos, (confesso que cheguei a ter pena da mãe desses pobres bichos, que por certo é a que mais sofre ao dar-lhes à luz e criá-los) acabou por influenciar meu sono e induzir-me a um sonho nada comum.
O fato é que dormi profundamente após a leitura, mas o sonho que tive poderia ser tomado por coisa de louco, não fosse o caso de que episódios absurdos ocorrem constantemente na vida real, quanto mais em se tratando do mundo onírico, onde tudo é possível e permitido.
Assim sendo, sonhei que caminhava por um espesso bosque, quando avistei justamente um porco-espinho revolvendo folhas secas sob uma árvore, em cujos galhos acabava de pousar uma arara, que é a mais bela ou, se não, pelo menos uma das mais atraentes aves de nossa fauna.
O mais curioso, no entanto, é que cheguei a tempo de ouvir o asqueroso animal cumprimentar a colorida ave, tendo um brilho de lascívia no olhar, nestes exatos termos:
- Hello! Tudo “celto”?
Naquele instante, porém, um tatu casca-grossa chegava de suas andanças noturnas e ao ouvir aquela saudação esquisita, pronunciada num misto de inglês e português errôneo, parou, deu uma fungada e sacou esta em seu linguajar de caboclo pé-rachado:
- Esse negócio de ficar relando muito um no outro nunca dá certo, por isso que “ni mim” ninguém rela nada. E se não dá certo com tatu, também não dá com arara e porco-espinho.
Dito isso, o tatuzão criado lambeu os beiços, enfiou o focinho na toca e desapareceu buraco adentro para descansar e, quiçá, também sonhar no seio aconchegante da mãe-terra.
Enquanto a arara, desconfiada, olhava ao redor, surgiu detrás de uma moita um tamanduá bandeira de unhas afiadas, originário dos pampas sulinos, que num sotaque característico fez o seguinte aparte:
- Não te apoquentes, bela prenda! Deixa comigo que eu dou um jeito nesses bichos do mato. Eles vão gemer na rampa, quando eu entoar uma melodia que diz mais ou menos assim: O tatu continua tonto. A arara continua linda. Alô, porco-espinho! Aquele abraço.
Ao ouvir isso, o porco-espinho ficou embasbacado, fez uma careta e fugiu de olhos arregalados, enquanto a imponente arara, abrindo as asas para exibir sua plumagem multicolorida, alçou um bonito voo, como que dizendo:
- Eles são da terra e eu sou do céu. Não preciso me rebaixar a tanto.
O tamanduá, por sua vez, levantou o baita rabo, em forma de bandeirola, e meteu o nariz num buraco de formigas para sua primeira refeição do dia, nada mais lhe interessando.
Quanto a mim, pretendia prosseguir a caminhada matutina, mas notei que o cenário ia se modificando à medida que aquele sonho também terminava, e eu me vi levantando com os costumeiros bocejos e a habitual espreguiçada. Afastei as cortinas, abri a janela e dei uma espiada em direção à velha árvore semidesfolhada, defronte de minha casa e em cujos galhos empoleiravam os feiosos e conhecidos pardais.
Uma imagem foi se formando em minha mente e vislumbrei um grande bugio, oriundo das matas serranas gaúchas, passando pela calçada e dizendo ao me cumprimentar:
- Barbaridade, tchê! Venho vindo de tão longe e não encontro araras por estas bandas, o que me parece uma pena, não é mesmo companheiro?
Traído pelas origens, respondi à maneira que costumava falar em minha infância lá no interior de meu estado:
- Verdade sim, mas em compensação “nóis tamém num tem” tatu ou tamanduá e nem porco-espinho, e isso já é uma grande vantagem, certo?
Tendo proferido estas palavras, resolvi sair e quando estava abrindo o portão ouvi uma voz dentro de minha cabeça, falando em sotaque conhecido:
- Falou, bicho! Tu tá ficando esperto, malandro!
Tratava-se de um enorme gorila, fugitivo do zoológico do Rio de janeiro que, parando na calçada, continuou seu bate-papo.
- Quem sabe numa oportunidade dessas a gente te leva para promover o Carnaval dos Bichos lá no Rio, com o patrocínio dos bicheiros de lá, certo, meu chapa?
Desta vez resolvi inovar e retruquei usando de outro linguajar:
- Certinho, ué! Só pode tá certo, uai!
Naquele instante, porém, um grupo de adolescentes, com mochilas às costas, aproximava-se rapidamente e notei quando uma garota cochichou ao ouvido de um dos rapazes, que me observou, comentando:
- Acho que ele está falando sozinho.
- Ele é biruta, - concluiu outra garota e todos riram, olhando para mim.
Mais que depressa, acabei de abrir o portão e saí com o dedo em riste, apontando para o grupo.
- Se vocês pensam que sou louco, eu sou mesmo, seus marotos! Vocês não sabem do que sou capaz, portanto tomem cuidado comigo, entenderam?
Foi divertido vê-los debandarem-se, tropeçando uns nos outros, tanto que comecei a rir, rindo ainda mais quando cada um deles ia se transformando num bicho diferente, de modo que a rua tornou-se um buliçoso zoológico, onde tinha de tudo, desde orangotango até cobra jiboia. Não conseguindo me controlar, eu ria cada vez mais, gritava imprecações e, numa risada atrás da outra, culminei com uma enorme gargalhada.
- Opa! O que está acontecendo por aqui? - ouvi uma voz conhecida e, levantando os olhos, avistei minha esposa afastando as cortinas para abrir a janela do quarto.
- Desde quando meu marido passou a falar dormindo! -- disse estas palavras esboçando um sorriso. Depois me encarou nos olhos e perguntou bruscamente:
- Quem é essa tal de Aurora?
- Você está querendo, talvez, dizer arara, não é meu bem? - respondi esfregando os olhos e dando um bocejo.
- É que eu estava sonhando com...
- Nada disso, meu querido! - Ela veio até mim, mordendo o lábio inferior e botando o indicador na ponta de meu nariz, prosseguiu:
- Você falou uma porção de coisas ininteligíveis, mas a palavra Aurora eu a ouvi muito bem. Quem é ela?
- Ah, sim, tem razão, - ponderei, tentando consertar as coisas, - o que eu disse foi que..., que acabou de raiar mais uma aurora. Só que eu estava acordado, fazia tempo.
Enquanto ela me olhava desconfiada, tratei de me levantar depressa, fazendo cara de sério, mas por dentro eu ria ao dizer de mim para comigo: - Quem vai entender isso? Durmo com uma mulher, sonho com animais e acordo novamente no mundo dos humanos. Num jogo de palavras, eu quase diria: acabo de acordar outra vez num mundo desumano. Eita mundo louco!
Todavia, antes de entrar no tema próprio desta narrativa, importa dizer-lhes ainda que naquela época eu ouvia frequentemente pelo rádio uma canção humorística, que assim se iniciava: “depois de comer um bom virado, eu fui dormir e tive um sonho lindo; sonhei que estava acordado, mas quando acordei, estava dormindo”.
Por falar em dormir, certa feita assisti a uma palestra de um psicanalista que afirmava serem os sonhos necessários para o nosso equilíbrio emocional, além de contribuir decisivamente para a restauração das energias físicas e mentais dissipadas durante a vigília. Para comprovar sua teoria, citava uma experiência realizada com gatos, os quais foram submetidos a um tipo de cirurgia cerebral, que os tornava impossibilitados de sonhar, de modo que pouco tempo depois todos aqueles felinos, sem exceção, haviam enlouquecidos.
Ah, esses cientistas! Com tanta coisa importante por fazer, foram logo perturbar o bom sono dos bichanos.
De qualquer forma, porém, aquela conferência trouxe-me um valioso benefício, porquanto foi com alívio que tive a certeza de que jamais ficarei louco, posto que sonho muito à noite e, às vezes, também durante o dia.
Tenho para comigo, que a pior coisa que pode suceder a um ser humano é ser ou tornar-se um maluco. Horroriza-me ver pessoas rindo à toa e falando sozinhas, sendo esta a imagem que faço da loucura, talvez porque na infância fui abordado por um desses doidos, dizendo qualquer coisa sobre anjos. Perguntei-lhe se estava rezando para algum anjo e ele me respondeu prontamente:
- Não, não, meu anjo! Sou o seu anjo da guarda e vim lhe buscar.
Escusado é dizer-lhes que desembestei para casa e fui logo perguntando à minha mãe o porquê de certas pessoas falarem sozinhas e ela me explicou que tais indivíduos vivem noutra realidade, conversando com personagens que só existem em suas próprias cabeças.
Desde então, passei a temer o fantasma da loucura e tenho mantido meu cérebro sempre ocupado, pois que assim, pelo menos é o que acredito, dificilmente captarei vozes intrusas com as quais não pretendo me comunicar.
Assim à noite, antes de me deitar, não costumo tomar refeições, nem mesmo um bom virado à paulista, que tanto aprecio, mas pelas razões expostas, tenho por hábito ler alguma coisa “light”, tal como um jornal ou revista, sem jamais esquecer a Bíblia, meu livro de cabeceira.
Exceto este último, nem sempre, porém, tenho à mão um texto apropriado e, nesse caso, leio qualquer coisa, desde gibis até trechos áridos da intrincada dialética hegeliana, visto que não conseguiria dormir sem antes cumprir o ritual que me impus há anos, com o fim de manter os neurônios em atividade e certificar-me de que estou plenamente lúcido, sendo esta a última coisa que quero ter certeza antes de conciliar o sono.
Dia desses, contudo, caiu-me às mãos uma mensagem para reflexão, que muito me impressionou, mormente por jamais ter ouvido algo parecido, em que pese ser eu um leitor voraz, como já frisei. O texto a que me refiro, além de proporcionar-me valiosa lição de vida, ao tratar da difícil convivência entre porcos-espinhos, (confesso que cheguei a ter pena da mãe desses pobres bichos, que por certo é a que mais sofre ao dar-lhes à luz e criá-los) acabou por influenciar meu sono e induzir-me a um sonho nada comum.
O fato é que dormi profundamente após a leitura, mas o sonho que tive poderia ser tomado por coisa de louco, não fosse o caso de que episódios absurdos ocorrem constantemente na vida real, quanto mais em se tratando do mundo onírico, onde tudo é possível e permitido.
Assim sendo, sonhei que caminhava por um espesso bosque, quando avistei justamente um porco-espinho revolvendo folhas secas sob uma árvore, em cujos galhos acabava de pousar uma arara, que é a mais bela ou, se não, pelo menos uma das mais atraentes aves de nossa fauna.
O mais curioso, no entanto, é que cheguei a tempo de ouvir o asqueroso animal cumprimentar a colorida ave, tendo um brilho de lascívia no olhar, nestes exatos termos:
- Hello! Tudo “celto”?
Naquele instante, porém, um tatu casca-grossa chegava de suas andanças noturnas e ao ouvir aquela saudação esquisita, pronunciada num misto de inglês e português errôneo, parou, deu uma fungada e sacou esta em seu linguajar de caboclo pé-rachado:
- Esse negócio de ficar relando muito um no outro nunca dá certo, por isso que “ni mim” ninguém rela nada. E se não dá certo com tatu, também não dá com arara e porco-espinho.
Dito isso, o tatuzão criado lambeu os beiços, enfiou o focinho na toca e desapareceu buraco adentro para descansar e, quiçá, também sonhar no seio aconchegante da mãe-terra.
Enquanto a arara, desconfiada, olhava ao redor, surgiu detrás de uma moita um tamanduá bandeira de unhas afiadas, originário dos pampas sulinos, que num sotaque característico fez o seguinte aparte:
- Não te apoquentes, bela prenda! Deixa comigo que eu dou um jeito nesses bichos do mato. Eles vão gemer na rampa, quando eu entoar uma melodia que diz mais ou menos assim: O tatu continua tonto. A arara continua linda. Alô, porco-espinho! Aquele abraço.
Ao ouvir isso, o porco-espinho ficou embasbacado, fez uma careta e fugiu de olhos arregalados, enquanto a imponente arara, abrindo as asas para exibir sua plumagem multicolorida, alçou um bonito voo, como que dizendo:
- Eles são da terra e eu sou do céu. Não preciso me rebaixar a tanto.
O tamanduá, por sua vez, levantou o baita rabo, em forma de bandeirola, e meteu o nariz num buraco de formigas para sua primeira refeição do dia, nada mais lhe interessando.
Quanto a mim, pretendia prosseguir a caminhada matutina, mas notei que o cenário ia se modificando à medida que aquele sonho também terminava, e eu me vi levantando com os costumeiros bocejos e a habitual espreguiçada. Afastei as cortinas, abri a janela e dei uma espiada em direção à velha árvore semidesfolhada, defronte de minha casa e em cujos galhos empoleiravam os feiosos e conhecidos pardais.
Uma imagem foi se formando em minha mente e vislumbrei um grande bugio, oriundo das matas serranas gaúchas, passando pela calçada e dizendo ao me cumprimentar:
- Barbaridade, tchê! Venho vindo de tão longe e não encontro araras por estas bandas, o que me parece uma pena, não é mesmo companheiro?
Traído pelas origens, respondi à maneira que costumava falar em minha infância lá no interior de meu estado:
- Verdade sim, mas em compensação “nóis tamém num tem” tatu ou tamanduá e nem porco-espinho, e isso já é uma grande vantagem, certo?
Tendo proferido estas palavras, resolvi sair e quando estava abrindo o portão ouvi uma voz dentro de minha cabeça, falando em sotaque conhecido:
- Falou, bicho! Tu tá ficando esperto, malandro!
Tratava-se de um enorme gorila, fugitivo do zoológico do Rio de janeiro que, parando na calçada, continuou seu bate-papo.
- Quem sabe numa oportunidade dessas a gente te leva para promover o Carnaval dos Bichos lá no Rio, com o patrocínio dos bicheiros de lá, certo, meu chapa?
Desta vez resolvi inovar e retruquei usando de outro linguajar:
- Certinho, ué! Só pode tá certo, uai!
Naquele instante, porém, um grupo de adolescentes, com mochilas às costas, aproximava-se rapidamente e notei quando uma garota cochichou ao ouvido de um dos rapazes, que me observou, comentando:
- Acho que ele está falando sozinho.
- Ele é biruta, - concluiu outra garota e todos riram, olhando para mim.
Mais que depressa, acabei de abrir o portão e saí com o dedo em riste, apontando para o grupo.
- Se vocês pensam que sou louco, eu sou mesmo, seus marotos! Vocês não sabem do que sou capaz, portanto tomem cuidado comigo, entenderam?
Foi divertido vê-los debandarem-se, tropeçando uns nos outros, tanto que comecei a rir, rindo ainda mais quando cada um deles ia se transformando num bicho diferente, de modo que a rua tornou-se um buliçoso zoológico, onde tinha de tudo, desde orangotango até cobra jiboia. Não conseguindo me controlar, eu ria cada vez mais, gritava imprecações e, numa risada atrás da outra, culminei com uma enorme gargalhada.
- Opa! O que está acontecendo por aqui? - ouvi uma voz conhecida e, levantando os olhos, avistei minha esposa afastando as cortinas para abrir a janela do quarto.
- Desde quando meu marido passou a falar dormindo! -- disse estas palavras esboçando um sorriso. Depois me encarou nos olhos e perguntou bruscamente:
- Quem é essa tal de Aurora?
- Você está querendo, talvez, dizer arara, não é meu bem? - respondi esfregando os olhos e dando um bocejo.
- É que eu estava sonhando com...
- Nada disso, meu querido! - Ela veio até mim, mordendo o lábio inferior e botando o indicador na ponta de meu nariz, prosseguiu:
- Você falou uma porção de coisas ininteligíveis, mas a palavra Aurora eu a ouvi muito bem. Quem é ela?
- Ah, sim, tem razão, - ponderei, tentando consertar as coisas, - o que eu disse foi que..., que acabou de raiar mais uma aurora. Só que eu estava acordado, fazia tempo.
Enquanto ela me olhava desconfiada, tratei de me levantar depressa, fazendo cara de sério, mas por dentro eu ria ao dizer de mim para comigo: - Quem vai entender isso? Durmo com uma mulher, sonho com animais e acordo novamente no mundo dos humanos. Num jogo de palavras, eu quase diria: acabo de acordar outra vez num mundo desumano. Eita mundo louco!