Quintal d´outrora
Como achar um quintal tão grande como aquele? Impossível. Pois quando lá voltei achei-o encolhido, diminuído e sem sentido. Percorri-o passo a passo, abraço a abraço nos troncos enegrecidos do arvoredo que lá deixara mas o tempo dali se exalara.
E a vizinhança, que não se mudara, me reconheceu pela cara. Ora era a cara de papai, e no minuto seguinte a de mamãe. Mas o quintal, esse não me reconheceu, nem o reconheci eu. E olhe que coisa de 15 anos passados haviamos sido amigos, companheiros, e cúmplices até.
Pra quê paraíso, se há um quintal para isso? Frutas de tantas tinha, que
fazia do pomar ao lado, mera fichinha. Sidra ou cidra, você decidra, mas até dessa frutinha, ou frutona, lá tinha, grandona, disforme. Se o marmeleiro e a macieira não chegaram a frutificar não foi por falta de
cuidar. Questão de esperar? Em compensação, o limoeiro, limão dava o ano inteiro. Feito o mamoeiro. Mas de melhor cheiro.
Laranjas, mangas, abacates, goiabas, cana, da caiana, tanto tipo de banana, além da parreira e da amoreira. Ah, as uvas. Que aflição enorme era esperá-las amadurecer para melhor seu suco sorver. O que quase a gente não deixava acontecer.
A jaboticabeira e o coqueiro compartilhavam conosco a sua infância e se diluía assim entre nós a ânsia de frutificância. E não eram só árvores frutíferas: havia as ornamentais e mesmo a horta. O sabugueiro, o jasmineiro, as roseiras de mamãe, e os cachinhos de ouro, um estouro.
E mais que a rua, era o quintal o nosso refúgio de horas a fio, pelos seus sendeiros, entre o milharal, o mandiocal, a horta, e coisa e tal.
Mas o deixamos, cheio de seus ramos, para trás. E zás, ele de repente, se desfaz.