654-O BEM CONTRA O MAL- Mais um roud

As forças do mal parecem estar sempre à espreita: um momento de distração, um segundo de descaso em situações aparentemente aleatórias, e eis que surge um elemento do mal a cometer barbaridades e atrocidades.

Manhã de sol e calor no bairro Xaxim, de Curitiba. Ruas planas, construções simples, de classe média, tipicamente residencial, sem comércio, escola ou qualquer estabelecimento que provoque a presença de pessoas em suas ruas largas. A sensação é de amplidão. Paz, tranqüilidade.

Dez horas. Mercedes preparava-se para sair. Ainda na garagem, abriu a porta do Fiat Uno e na cadeira fixa no banco de trás, ajeitou o filhinho de pouco mais de um ano, fechando o cinto de segurança.

— Aí, nenê, fica quietinho; Vamos até o shopping fazer algumas compras e umas roupinhas prá você. Como está crescendo, meu homenzinho!

Trancou a porta da casa, entra no carro e deu marcha ré. Saiu da garagem e fazia manobra para partir, quando se lembrou.

— Hi, esqueci a carteira.

Estacionou o carro rente à saída da garagem, saiu do carro e correu para a casa.

— Espera aí só um momentinho, filhinho. Mamãe já volta.

Deixou a chave na ignição, pois era um ir-e-vir instantâneo.

Entrou na casa num átimo. Momento suficiente para que um homem entrasse no carro e fugisse, levando com ele o bebê na cadeirinha infantil.

Estaria esse elemento do mal de tocaia? Mas era uma circunstância completamente fortuita, fora da rotina de Mercedes. Seria um elemento do bairro, talvez vizinho? Ou um marginal percorrendo aleatoriamente as ruas do bairro, à procura de um momento como aquele, propício à sua atividade criminosa?

O mal está sempre de tocaia.

Ao voltar, Mercedes viu, aterrorizada, o carro se afastando e dobrando a próxima esquina. Desesperada, correu na direção de onde o carro virara, gritando para quem quer que pudesse ouvir na rua deserta de transeuntes.

Para sua sorte (ou seria um elemento do bem justamente colocado ali?) um taxi passava e o taxista, vendo o desespero da mãe, parou e imediatamente abriu a porta do carro.

— Me ajuda, moço. Aquele carro lá na frente, aquele vermelho, é meu. Meu filhinho ta lá dentro.

Antes mesmo de perguntar qualquer coisa, o taxista pisou no acelerador. O Fiat vermelho ainda era visível, distante talvez uns cinco quarteirões.

— Que foi que aconteceu? — perguntou o taxista.

— Meu carro foi roubado. Meu filhinho está lá, na cadeirinha. Corre, moço, corre!

O taxista não se perturbou. Homem de experiência, sabia de alguns macetes ensinados pelos anos da profissão. Imediatamente acionou o rádio e entrou em contato com o primeiro colega que respondeu ao contato.

— Aqui é o Rodrigo, placa AKZ 4321. Estou seguindo um carro roubado com um bebê dentro. Estou no bairro Xaxim. Avise os ouros companheiros. Preciso de ajuda.

A notícia correu entre os taxistas como uma chama no rastilho. Dentro de poucos minutos, três taxistas responderam ao apelo de Rodrigo e se dirigiam ao bairro.

Através do rádio. Rodrigo ia comunicando o percurso do Fiat vermelho. O carrinho não era muito potente, e o perseguidor não demorou a aproximar-se do perseguido.

Com a aproximação de outros taxis, o assaltante viu que estava sendo caçado. Sem diminuir a velocidade, colocou o braço esquerdo para fora da janela, acenando com um revolver.

Os taxistas se distanciaram.

— Moço, chega mais perto, quer ver meu filhinho. — Mercedes gritava com Rodrigo.

— Não dá, dona, o homem está armado. Vamos ter de manter a distância.

Pelo radio, escutava e conversava com os colegas. Seis já estavam na cola do Fiat Vermelho.

— O homem ta armado. Cuidado, vamos perseguir de longe. Avisem a polícia!

O bandido levou o carro para as imediações do shopping, pretendendo despistar os taxistas no meio do transito de carros que circulavam pelo entorno do shopping. Conseguiu levar o carro até uma rua lateral, onde parou o carro e saiu correndo.

Quando Rodrigo e mais três perseguidores chegaram até o carro, puderam ouvir o choro da criança, mas o bandido já havia sumido.

Mercedes saiu correndo do taxi e abriu a porta de seu carro, para abraçar o filhinho, que, assustado, nada sofrera durante a perseguição.

Alguns taxistas saíram de seus carros e correram na direção do shopping, onde o bandido, naturalmente, se misturara à multidão de consumidores.

A mãe e a criança foram abraçadas e saudadas pelos motoristas.

A polícia chegou meia hora depois. Pista do bandido, nenhuma.

Mais uma vez, as forças do bem venceram as forças do mal.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 23 de fevereiro de 2011

Conto # 654 da Série Milistórias. – 745 palavras

Conto inspirado em fato real, ocorrido em Curitiba, em 22 de fevereiro de 2011.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/02/2015
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