653-MINHAS AVENTURAS NOS GIBIS - Memórias

Os primeiros gibis

Os gibis eram revistas de leitura proibida pelos pais dos garotos (as garotas não se interessavam por gibis), pois eram cotadas como perniciosas e perigosas. As aventuras eram violentas, segundo os adultos, e iriam influenciar no futuro comportamento dos filhos, gerando bandidos e criminosos. Não viam as histórias em quadrinhos pelo lado positivo, que era a luta entre o bem e o mal, onde apenas o bem e a justiça prevaleciam.

Em minha casa a proibição era amena: nas diversas vezes que fui surpreendido lendo gibis, a revista me era tomada e não resultava em castigo nem reprimenda. Mas isto foi só nas primeiras leituras, pois em seguida passei a ter o cuidado de ler escondido, o gibi metido entre os livros de estudo. Também a troca de gibis com os amigos da rua ou colegas do ginásio era furtiva, o que dava uma sensação maior na atividade de ler as revistas proibidas.

Li e guardei gibis desde os tempos escolares. Tinha uma pilha de revistas que escondia numa pequena plataforma que havia sobre um corredor, dentro da casa, onde o acesso só era feito subindo em cadeiras e galgando uma parede lisa (mas com buracos apropriados para apoiar o dedão do pé direito), uma escalada digna de um herói das histórias que amava ler.

Passei por momentos difíceis devido ao amor pelos gibis. Os primeiros gibis ganhei-os de Beatriz, minha prima enfermeira que morava em São Paulo. Para me submeter a uma operação de garganta (extração de amígdalas), a querida prima me prometeu alguns gibis. Lembro-me bem (ora se me lembro... era setembro de 1943) quando, após a cirurgia, acamado, recebi pelo correio um pacote redondo, enviado por Beatriz. Abri com ansiedade: eram cinco revistas de histórias em quadrinhos: dois exemplares de Gibi Mensal, dois de O Globo Juvenil Mensal e um exemplar de Tico-Tico. Eram dos meses de agosto e setembro daquele mesmo ano, as capas de papel couchê, colorias e brilhantes, e recheadas das HQs dos grandes heróis.

Encarnando os personagens

Gostava tanto de ler gibis que tinha pesadelos e sonambulava. Numa noite, mamãe me acordou quando eu tentava apagar um incêndio: sonhava que era Tocha Humana.

Tive apelidos ligados aos personagens: pela minha pequena estatura e risada de dentes à vista, fui, durante algum tempo, no ginásio, tratado de Doutor Silvana, inimigo número l do Capitão Marvel. No Rio de Janeiro, em curso para fazer concurso do Banco do Brasil, era conhecido como Tocha Humana, devido ai meu cabelo ruivo, muito ruivo. Não me aborrecia ter tais apelidos, mas este último me causou certo desconforto em incidente que descrevo no conto “Tocha Humana” (#110).

As origens dos heróis

Poucos heróis das histórias em quadrinhos têm a gênese escrita pelos próprios criadores dos personagens.

Super-Homem tem a biografia mais completa, com a magnífica criação (e destruição imediata) do Planeta Kripton, a viagem interplanetária e o encontro do pequeno foguete-berçário pelos pais adotivos de Clark Kent. O maior herói das HQs é, portanto, um extraterrestre de origem bem explicada.

Batman também tem a biografia completa, bem como Homem Aranha, Tarzan (cuja biografia é criação do inspirado escritor Edgar Rice Burroughs), Capitão Marvel (grande “lenda urbana”!), Fantasma, Hulk, e alguns mais.

Há uma legião de heróis e super-heróis cujas gêneses são desconhecidas. Outros, cujas histórias foram recriadas por Stan Lee e os estúdios da Marvel ou DC Comics, só tiveram as biografias completas a partir da década de 1960. Essas recriações estão sendo apresentadas nos filmes, nos quais a fantasia dos roteiristas por vezes cria origens extraordinárias aos heróis e heroínas consagrados.

Como leitor inveterado de gibis e principalmente das histórias em quadrinhos dos fantásticos heróis, sempre me intrigou a origem dos personagens. Desde sempre, após alfabetizado, sou leitor de histórias em quadrinhos. Tenho acompanhado a evolução dos personagens, através dos muitos roteiristas e centenas de desenhistas.

A pergunta que não quer calar em minha mente é esta: de onde vieram tantos heróis? Como apareceram? Quais as origens de seus poderes extraordinários e coisas que tais.

Lendo, relendo, folhando os gibis e fazendo pesquisas, encontrei a história real de diversos heróis, que oportunamente terei prazer em revelar aos leitores destas Milistórias.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 18 de fevereiro de 2011

Conto # 653 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 13/02/2015
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