ÁGUA NA FOLHA DE INHAME

Ali, bem na descida do Lício, numa manhã de novembro, céu azul com nuvens pesadas armando chuva, desciam Felipe e sua mãe. Ambos montados numa mula tordilha negra, agora já envelhecida e branquinha. Eles cavalgavam pelo caminho estreito e com barrancos alto e trilho encharcado pelo tempo das chuvas.

As flores nos cipós de São João tomavam conta do paredão de terra que foi sendo criado ao longo de tempo. Formigas cortadeiras caminhavam pela trilha ao longo da beira do barranco levando as folhas ao formigueiro.

As borboletas das mais variadas cores dançavam como se fosse bailarinas, atropelando as libélulas nas poças de águas da chuva que caiu na madruga anterior.

Os anus pretos pousando sobre as pontas dos mourões no topo do barranco, assoviavam estressados, vigiando seus ninhos pendurados nas folhas dos guatambus.

O cachorrinho amarelo, apelidado de Fubá, de dona benta, esposa de seu Lício, latia feito doido defendo o seu território que iniciava no portão de ripas onde ele se encontrava.

Ao sair do morro fundo, a mãe de Felipe parou a mula às beiras do riacho de águas cristalinas, onde havia muita Maria Jacinta e inhame. E água gelada da serra para matar a sede. Numa folha enorme de inhame ela colhia água do córrego e ambos bebiam deliciosamente.

Após ter saciado a sede, ambos iniciaram a viagem cavalgando na subida do João Candinho. Ansiosos para chegar ao topo e descer a morraria até o povoado dos avós maternos de Felipe.

As viagens eram assim. Cheias de detalhes que só depois de muito tempo passaram a ser percebidos.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 12/02/2015
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