Ida, Helga e o divã

- O que é isso, Ida?

- Um divã, Helga.

- Mas redondo, vermelho, com essa colcha dourada? Parece mais uma cama... E esse espelho, onde você pensa que vai colocá-lo?

- No teto, em cima do divã.

- Ida... o que te deu?

- O doutor pediu que eu comprasse um divã novo para seu consultório. Achei esse o máximo. O que houve, Helga, está com ciúmes porque o doutor pediu que EU escolhesse, e não você?

- Viajou, mulher.

- Você sabe que não viajei... você está roxa de inveja. Este divã é ultra sensual, delicioso mesmo, dá vontade de ficar deitado nele o dia todo, imaginando cooooisas...

- O divã é para que as pessoas relaxem e possam soltar seus medos, para que o doutor as analise.

- Ah, claro... olha a contenção em pessoa! Eu te saquei, Helga, você é assexuada.

- Que besteira você está falando!

- Pensa que eu não notei? Cada dia pior... daqui a pouco vai virar a paladina da moralidade, a Super Helga!!!

- Chega, Ida. Vamos já trocar esse divã ridículo. Tem que ser em cores neutras, relaxantes... e jamais redondo! Tem que ficar fora do ângulo de vista da poltrona do doutor, para que as emoções não sejam direcionadas ao analista, e sim ao próprio analisado.

- Blá, blá, blá.

- Você já está me irritando. Parece um bicho!

- Olha a Super Helga aí, gente!...

- Isso mesmo. E como Super Helga e assistente direta do doutor, tenho poderes para te demitir. A partir de amanhã você terá um mês para achar outra colocação.

Ida olhou bem para Helga, voltou-se em seguida para o divã e sorriu, maliciosa.

- Tudo bem... vivemos em conflito, mesmo...

Pegou a colcha dourada, dobrou de qualquer jeito, enfiou na bolsa e saiu, altiva nos seus saltos estratosféricos.

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(Trocadilho sem graça para gerar um conto ligeiramente baseado nos conceito de Id, Ego e Superego, definidos por Sigmund Freud)

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "A fêmea no divã"

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