O consolo dos ciprestes
Tirante a casa do gerente que tinha uma bela varanda alpendrada à frente, e umas outras pouquinhas casinhas com seus alpendrinhos, o restante do casario brumadense não tinha nada - a não ser, e quando houvesse, uma pequena escada de um ou dois degraus pro sobe e desce. E o invariável ferrinho, uma lâmina,inserida ao pé da parede para se limparem os sapatos quando o barro tudo tomava e nas solas se incrustava.
Mas as frentes das casas continuavam nuas, dando direto, ou do lado dileto, pras ruas. Ticintina, que vivia com a mãe viúva, e a irmandade solteira naquela casinha em suave subida, espremida entre as quase iguais casas de Dona Iria e de Dona Narcisa, além de dar suas horas na fábrica, ocupava-se do quintal que mantinha - numa escala de um a cinco - limpo, um brinco.
Plantar flores não era o seu forte, no entanto. Sob o seu severo escrutínio cotidiano de assepsia escapavam apenas umas escassas mulatas-da-sala, ou marias-sem-vergonha em ponto de bala, e as boninas, que nem chegavam a tanta boniteza, mas tinham o condão de produzir umas sementes duras que serviam - hipoteticamente - de contas para um rosário, ainda imaginário. Lá pro fundo do quintal havia as ervas de Dona Inhana,a mãe de todos, em que a marcela e o funcho ressaltavam, e nestas, as mãos ou a vassoura de Ticintina não tocavam.
Seu xodó eram os dois ou três ciprestes que lhe ornavam a porção frontal do quintal. Não impressionavam pelo porte mais que pelo seu jeito forte de atravessar os anos crescendo pouco, atracados àquela terra bruta, mais apropriada pros assapeixes,maria-pretas, alecrins e até ingazeiras e que lhes devia parecer tão estranha às nobres raízes.
Mas resistiam, mais que cresciam, aquelas árvores arbustivas, com suas folhinhas acúleas, sem flores ou frutos e até no projetar a sombra, um tanto brutos. Mas eram os soberbos ciprestes a marca registrada das boas-vindas na casa de Ticintina. Que ainda tinha Tibebé, Tirrita, Tilia e o Titonho...e de Dona Inhana,mãe de todos que aqui reponho.
A giriza de Ticintina, no entanto, era tanto vassourar aquele lugar e tão pouco adiantar, pois Nazinha, a vizinha rua acima, vivia jogando porcaria - e, muy terca, ainda ria junto à cerca que as dividia. Enfurecida, fula da vida, jurava Ticintina ainda pegar a severgonha daquela Nazêga - que nunca fora pega pruma refrega e, enquanto não se acalmava era um ou outro cipreste que a consolava.