Maria Taioba
Em meio à tarde, e com a rua bem deserta, defronte à singela casa colonial, bati à porta de sólido madeiro e chamei várias vezes pelo nome de Maria Taioba, até que a mesma me atendeu finalmente. Estava ali, por instrução de mamãe, a pedir umas folhas de taioba, para enriquecer nossa frugal janta.
Maria nada me perguntou, mas foi logo ao quintal e me trouxe um ramalhete delas, sempre de olho em meu rosto. E antes que eu me virasse de volta, ela enfim, a língua solta:
- Olha, menino, quando for me chamar novamente, diga só Maria. O meu irmão Angelino pode se aborrecer.
Acedi, num meneio de cabeça e acho que disse sim à minha interlocutora. Nâo discutimos nenhum valor da mercadoria que talvez outro preço mais justo teria, senão o muito obrigado, que eu já proferira.
No caminho de volta, e pelos caminhos da vida, pus-me a refletir o porque de somente Maria, com aquela exclusão peremptória do Taioba. Só encontrei uma pista informal que, agora, passados Maria e Angelino, não tenho como comprovar:
Maria havia sido moça prendada em formosura e em graças sociais na sua juventude, e muito cobiçada - é o que se alude. Não havia se casado, e a algum encontro furtivo se entregado. E, de forma depreciativa, o Taioba, em seu nome, havia sido agregado. Quiçá por algum admirador, em suas invectivas, frustrado. E a evocação dessa lembrança, ainda que por menino, fúria faria ao vigilante Angelino.
E mesmo com taiobeira no quintal, nunca mais voltei a provar dessa iguaria libidinal.