O gosto dos grelinhos
Tudo na parreira seduzia. E nem precisei ter uma Eva, ou a serpente, que ainda mais enleva. Era o paraíso, pura e simples.
E ficava eu morando como aqueles galhos, tão ásperos na aparência, inda mais quando podados, mas era da poda - é poda! - que saiam folhas verdes aliciantes pra todos os lados, e cada uma delas com que graça não cobriria os pudores dos mais impudendos amores...
E não bastasse o frenesi da palpitação, os cachinhos eram a mais arrebatadora revelação: de verdinhos, iam crescendo, crescendo, até atingir a puberdade verdolenga, y la maturidad más dulce, pués que venga! Aí, iam-se enrubescendo numa profusão que só podia levar ao violáceo da paixão.
A menos que, desassossegada, deles se apossasse alguma rapaciosa mão. E no entanto, esperando enquanto, o quaresmático amadurecer das uvas, propendi para testar o gostinho dos grelinhos, encaracoladinhos. E que amargos os danadinhos.