A casca

Esta história não tem um final, não tem um meio ou sequer um começo. Palavras são vagas, sentimentos são intoleráveis quando se trata de explicações. Possíveis explicações para tudo o que vivemos. Olhei-me no espelho e nada mais vi, a não ser uma casca vazia, indecifrável. Quem ela era eu jamais saberia, já não conhecia. A casca me olhava de volta, com seus olhos pequenos, vagos e sinceros. Um bom sinal não haveria de ser. Do lado de fora os pássaros cantavam, a vida continuava. Notas musicais representadas pelas falas dos anjos, e entre todos eles o grande solo do sol, por si só. Uma ré no que é importante, para sempre retornar ao só. Anjos não existem. O canto talvez, a paz... mais nada além disso, além desse rumor incontrolável. O próximo passo estava cada vez mais distante. A casca permanecia no mesmo lugar, vazia, encarando-me atentamente. Esta história continuava sem final. Não faz sentido um final quando nada é preenchido. Não se pode tolerar nada menos importante do que a vida, do que o poder de amar. Sem amar, a casca permanece imóvel, esperando. Finalmente me dei conta que assim como o sol, eu também pressentia o que estava por vir. O nada. A solidão. Então como aprimorar meus sentidos e aprender a amar? a voltar a viver? Minhas mãos moveram-se com lentidão até uma ponta do espelho. A casca não se mostrou com medo. Mas aos poucos, se dissipou. Foi aquecida pelo o que estava dentro, pelo o que voltaria a viver. Ou pelo menos esse era o plano. Para enfim, tudo recomeçar.

Isabella Procópio
Enviado por Isabella Procópio em 16/01/2015
Reeditado em 16/01/2015
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