Pós-noite de São João

...varas de bambu, que achamos pela manhã espalhados pelo quintal, não chegavam a meia-dúzia, mas tiveram uma explicação presta de papai, a quem acorremos, curiosos, querendo porque querendo saber que fenômeno era: Eram restos dos chamados foguetes-de-rabo que, na noite anterior, pipocando no frio céu junino, nos haviam deleitado com suas chispadas, relampejos e explosões, em formato de iluminados paraquedas, as chuvas-de-lágrimas.

E ali estávamos, orgulhosos, de posse daqueles outrora potentes troféus que haviam subido a sumas alturas no cumprimento de seu nobre papel: glorificar João, santo fogueteiro, enquanto proporcionavam aquelas visões maravilhosas aos olhos do embevecido populacho.

Gagárin havia ido mais longe até, testemunhando a azulice do globo em todo o seu esplendor. Mas quem sabe não teria também encontrado sua vocação e fé, ainda menino, enquanto catava rabos de foguete pelo quintal...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/01/2015
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