A FÁBULA DO HOMEM PAVOROSO

O homem pavoroso, com cara de espantar cuco, vai andando pela rua. Já está entrado em anos. Tem a cabeça dominada pela calvície, e a dentadura não lhe assenta mais. É um infeliz. Eu disse que ele “é um infeliz”? Pois essa é a mais pura verdade, e nunca disse com tanta propriedade que uma pessoa é infeliz.

Eis que surge uma jovem na janela. É linda – tão linda quanto as criaturas decantadas em versos pelos poetas – e grita:

– Ei, você aí... Suba, por favor.

O homem pavoroso tem um estremecimento. Será que está sonhando? Não, não está sonhando. A coisa está realmente acontecendo. Ele não perde um só segundo. Sobe apressado as escadas.

Lá no alto, parada na soleira da porta, iluminada pela luz que vem de dentro da casa, está a jovem. Deve ter pouco mais de vinte anos. Seus encantos estão ocultos por um négligé, que mais expõe do que esconde. O homem treme de cima abaixo, mal podendo acreditar no que vê e ouve. E, assim que ele chega ao topo da escada, ela fala com uma voz capaz de ressuscitar frade:

– Faça o favor de entrar.

Ele entra e quase tem um colapso, quando ela lhe segura o braço e o conduz até um quarto. Depois, é levado até um berço, onde está uma criancinha que chora. Então, olhando com cara feia para a criança, a jovem diz:

– Olhe filhinho... se continuar chorando assim, o papão aqui leva você.

MORAL DA HISTÓRIA:

Não há ninguém inútil neste mundo, embora nem sempre sejamos utilizados naquilo de que mais gostamos.

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 12/01/2015
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