629-BRIGA FATAL - Roteiro para filme-curta

Roteiro para filme-curta-metragem

SINOPSE

= Arnaldo sofre um ataque do coração e é conduzido à Unidade de Pronto Atendimento. Na Unidade, deve esperar pela ambulância, que o levará ao Hospital do Coração no centro da cidade. Aguarda na maca a chegada da ambulância. A ambulância demora uma hora para chegar, devido ao trânsito congestionado. O Diretor da UPA está à porta da Unidade e surpreende-se quando vê o médico que chega na ambulância. Uma surpresa que remete a uma relação anterior de inimizade/ódio entre os dois. Discutem sobre a urgência em colocar o paciente na ambulância e a assinatura de papais para o embarque. O médico da ambulância e o Chefe da UPA entram em luta corporal. Enquanto brigam, o paciente que aguarda embarque na ambulância, morre.

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LOCAÇÕES

1- Interior de um carro de passeio – carro novo- Etc.

2- Sala de atendimento/recepção da Unidade de Pronto Atendimento

3- Quarto da Unidade de Pronto Atendimento (UPA)

4- Ambulância

5- Porta da Unidade de Pronto Atendimento

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PERSONAGENS

No Carro - Roberto

Clarice

Dalva

Arnaldo

Na Unidade de Pronto Atendimento: Dr. Gomide

Jonas, enfermeiro

Na Ambulância: Dr. Jaime

José – Motorista e enfermeiro

PERSONAGENS NO CARRO

Roberto

Clarice

Dalva

Arnaldo

- ROBERTO: PERSONAGEM CENTRAL

Professor de português, moço de m/m 25 anos. Barbeado, bem penteado, simpático.

Branco, moreno claro, magro, cabelos pretos ou loiros, estatura de 1,70 a 1, 80 m.

Psicológico: de natureza calma, atencioso, observador, homem de ações e atitudes. Homem fiel aos princípios familiares. Carinhoso com a irmã e com os pais. Homem realista contudo, mesmo sendo equilibrado, tem seus altos e baixos emocionais.

Solteiro, vive com os pais e a irmã.

- CLARISSE : Irmã de Roberto

Moça de 22/23 anos. Estudante de Faculdade. Branca ou morena clara. Magra, cabelos lisos ou cacheados até os ombros.Rosto de traços equilibrados, bonita. Estatura: 1.65 a 1,70. (Mais baixa do que Roberto).

Esbelta, pernas bem torneadas. Seios médios (pessoa comum).

Vestuário: vestido leve, que chega aos joelhos, meio rodado (comum), de cor lisa (não estampado), sapatos de salto baixo.

= DALVA = Mãe de Roberto e Clarisse, esposa de Arnaldo

- Dalva: mulher de meia idade (45/50 anos m/m). Branca, tez muito clara (pessoa que não toma sol). Baixa: 1,60 m. Cabelos pretos e curtos, despenteados. Face com algumas rugas, sem maquiagem. Vestuário: blusa branca ou de cor lisa, clara. Saia simples, meio rodada, que lhe chega 10 centímetros abaixo do joelho. Usa um casaco de mangas compridas. Vestuário bem conservador, compatível com a idade que aparenta ter (45/5oanos). Calça sapatos sem saltos, usados comumente por mulheres em casa. Instrução/profissão: Dona de casa, deve ter o curso intermediário, nunca chegou à faculdade. .

= ARNALDO = Pai de Roberto e Clarisse, marido de Dalva

- Arnaldo: homem de m/m 60 anos. Branco, rosto rosado, de pessoa hipertensão. Cabelos brancos e ralos despenteados (ou careca), barba por fazer, de alguns dias. Magro. Estatura: 1,60 ou 1,70 m. Veste pijama listrado, bem folgado. Usa chinelos de dormir, tipo pantufas.

PERSONAGENS NA UNIDADE DE PRONTO ANTENDIMENTO (UPA)

Na Unidade de Pronto Atendimento: Dr. Gomide

Jonas, enfermeiro

= DOUTOR GOMIDE

- Dr. Gomide: Medico-chefe da UPA: alto- 1:80 ou mais), magro, idade entre 40/45 anos. Branco, rosto com algumas rugas. Barba curta, bem aparada, bigodes bem cuidados. Cabelos pretos, com alguns fios brancos.Rosto mais para cinza, de pessoa que não toma sol. Seriedade de quem está intensamente mergulhado no serviço. Demonstra calma e competência. Veste a bata clássica de hospital sobre camisa e calça também brancos. . Sapatos brancos.

= JONAS

- Jonas enfermeiro do hospital. Jovem, terá no máximo 25 anos. Moreno, cabelos crespos. Forte, baixo (1,65 m), atarracado. Traja camisa, calças brancas, tênis brancos.

= ENFERMEIRA

- Jovem morena, magra, traços bonitos no rosto, de corpo bem proporcionado, estatura de 1,55 a 1,60, uniformizada toda em branco. Demonstra eficiência.

PERSONAGENS NA AMBULÂNCIA:

= DR JAIME

- Dr. Jaime: Medico jovem, terá uns 28 anos. Branco, poderá ser loiro ou ruivo, rosto claro, bem barbeado. Estatura média(1,70, + ou -), bem penteado, elegante. Traja camisa de mangas curtas, branca, calça branca, sapatos e meias tudo branco. Personalidade: Agitado, apressado, irrequieto.

-

= JOSÉ

José, motorista da ambulância. Idade aparente 30 anos. Veste-se de branco: calças, camisas e tênis brancos. Também se mostra apressado e agitado. ansioso.

AÇÃO

Cena 1

Dentro do Carro que transita por uma rodovia

Interior do Carro. Câmara gira, passando pelo interior e focalizando cada um dos quatro personagens, à medida que dialogam.

No banco da Frente: Roberto e Clarisse. No Banco de trás: Dalva e Arnaldo.

Roberto dirige o carro, atento à estrada e ao mesmo tempo ao que se passa no interior do carro. Segura o volante com as duas mãos, firmemente, com força. Não olha para os lados. No rosto mostra angustia e os olhos vão da estrada, à frente, para os lados.

Clarisse – Sentada no banco da frente, está agitada, virando-se constantemente para o banco de trás. Demonstra muita angústia. Olha para o irmão, na direção, e vira-se para olhar o velho, no banco de trás. –

Vamos. Roberto! Mais rápido! Papai está muito mal!

Roberto — As duas mãos no volante, atendo à estrada e ao painel do carro.

Não dá pra ir mais depressa. Estou no limite. Esse caminhão aí na frente não me deixa ultrapassar.

Arnaldo —meio sentado e meio deitado no banco de trás. Respira com dificuldade, arfando, olhos arregalados, não chega a pronunciar nenhuma palavra. Apenas emite

(sons cavos de dor e sofrimento).

Dalva — sentada de lado, no banco de trás, olhando diretamente para o marido. Angustiada, ora passa as mãos sobre o rosto e o corpo de Arnaldo, ora junta as mãos, trazendo-as ao rosto, em sinal de oração. Balbucia as palavras.

Ai, meu Deus, não deixa ele sofrer não. Misericórdia...Minha Mãe de Deus, socorre

ele. Ave Maria...

Roberto, mais atento ainda ao tráfego, sem se virar:

Melhor vocês colocarem os cintos de segurança.

Ninguém presta atenção às suas palavras.

Câmara mostra movimentação da estrada, a partir do interior do carro, do ponto de vista do motorista. Passa lentamente sobre o relógio do painel do carro, que mostra a hora: sete horas e vinte minutos. Muitos caminhões, carros, movimento intenso. Depois de alguns minutos, a estrada se abre pela direita, descortinando-se o edifício da Unidade de Pronto Socorro. Câmara mostra, por trás do ombro de Roberto a movimentação de suas mãos no volante, virando para a direita e indo em direção ao edifico. A aproximação é tranqüila e o motorista encosta o carro ao lado da porta principal, debaixo da marquise.

Cena 2

Na Portaria da Unidade de Pronto Atendimento

Roberto se liberta do cinto de segurança, abre a porta do carro, sai e se dirige rápido para a entrada do edifício.

Clarice também sai do carro e corre para alcançar o irmão.

Depressa, Roberto. Temos de encontrar um médico.

Os dois aproximam-se do balcão de atendimento e dirigem-se à atendente. A câmara passeia pela sala, onde cinco pessoas estão sentadas nas duas fileiras de poltronas, aguardando serem atendidas.

A câmara volta a focar Roberto, Clarissa e a atendente, que já está ao telefone. Na parede, novamente o relógio, marcando 7 horas e 25 minutos.

No carro, Arnaldo respira cada vez mais com dificuldade. Dalva permanece ao seu lado, cada vez mais confusa e desesperada.

Ela olha para a porta do pronto-socorro. A câmara mostra, do ponto de vista de Dalva, uma maca saindo da porta do edifício e vindo para o carro. Além de Roberto e Clarisse, vêm dois homens vestidos de branco: O medico Dr. Gomide e o enfermeiro Jonas..

Dalva abre a porta do carro e sai. A maca é colocada ao lado do carro e agilmente o médico e o enfermeiro retiram Arnaldo do carro, colocando-o deitado sobre a maca.

Com movimentos precisos e rápidos, levam a maca para dentro da UPA.

Cena 3

Em quarto hospitalar do atendimento da UPA

.

No quarto: uma cama, onde Arnaldo está deitado, Estão na sala: Roberto, Clarisse, Dalva e Dr. Gomide, que se dirige a se dirige a Roberto:

Ele terá de ser atendido no Hospital do Coração. A ambulância já foi chamada, deverá chegar a qualquer momento. Vamos deixá-lo aqui, em repouso. É o que podemos fazer aqui na Unidade.

Chega uma enfermeira com um suporte para soro, um envelope com soro, seringa, etc. Aproxima-se da maca e aplica a agulha na veia do braço esquerdo de Arnaldo. Aplicado o soro, examina se está descendo bem e com um olhar para Roberto, Clarisse e Dalva, diz:

Está tudo sob controle. A medicação vai aliviá-lo e o fará dormir. Não se preocupem. A ambulância já foi chamada.

A enfermeira sai e os três permanecem no quarto. Dalva senta-se em uma cadeira ao lado da cama onde está Arnaldo.

Cena 3

Ambulância na Rodovia

Estrada de grande movimento. Um congestionamento de alguns quilômetros, vistos do alto (tomada de helicóptero). A câmara se aproxima sobre uma ambulância, focando-a por trás. Luzes piscam sobre o teto. À medida que a câmara se aproxima, ouve-se o som da sirene da ambulância.

Mostra varias tentativas de sair do engarrafamento, mas não consegue. Aproximando-se a câmara “entra” na ambulância e focaliza os dois tripulantes. O motorista, José, atento e ansioso, tentando sair do engarrafamento.

O médico, Dr. Jaime, também está ansioso, olhando para os lados, diz:

Porra, logo agora! Será que tem algum problema na estrada?

O motorista, sempre tentando sair com a ambulância pela esquerda, e trazendo o carro para a posição anterior, responde:

Agora está desse jeito. Nestas horas de pico, de manhã ou de tarde, é um inferno.

O médico diz, falando ao com celular, explica:

Estamos indo. A gente entrou sem querer num congestionamento. Estamos perto, no quilômetro 48.

Ouve atentamente por segundos, e responde:

Sei, sei que é urgente. Mas estamos presos. Não temos alternativa...

Com movimento abrupto, fecha o celular. Diz para o motorista:

Vão botar a culpa em nós pela demora... Que merda!

Dá um tapa no painel da ambulância. A câmara dá um close no punho do médico e congela no relógio, que marca 8 horas;

A câmara “sai” do interior da ambulância e vai subindo, mostrando sempre o engarrafamento, que se prolonga pela estrada.

Cena 4

No quarto da UPA

No quarto da UPA. Roberto, Clarisse e Dalva permanecem de pé ao da cama. Arnaldo está de olhos fechados. Dormita e de vez em quando dá fortes respiradas, procurando ar. Câmara dá um close no envelope do soro, que já está quase no final.

Clarisse ora cruza os braços, ora descruza, leva as mãos ao rosto. Pura ansiedade. Diz, sem se dirigir a ninguém:

O soro está acabando. E essa ambulância que não chega nunca.

Roberto, também mostrando ansiedade mais no olhar do que nos movimentos, diz:

Já faz quase uma hora que estamos aqui.

Ouve-se o som estridente da sirene da ambulância aproximando-se. Há uma movimentação no quarto: o Dr. Gomide o enfermeiro Jonas abrem a porta, entram com uma maca. Doutor Gomide diz:

A ambulância chegou

Jonas retira o soro. Dr. Gomide e Jonas colocam Arnaldo na maca. José sai da Sala, empurrando a maca.

Cena 5

Na portaria da Unidade de Pronto Atendimento

A ambulância está estacionada à porta da UPA. Dela saem apressados o medico Dr. Jaime e o motorista José. Na portaria, está a maca com Arnaldo, Dr. Gomide, o enfermeiro Jonas, Roberto, Clarisse e Dalva, ao redor da Maca.

Dr. Gomide, dá as ordens:

Depressa, venham depressa. Aqui. Jonas, puxa a maca pra a ambulância.

O Motorista José abre a porta traseira da ambulância. O médio Dr. Jaime aproxima-se do grupo/da maca com uma prancheta e caneta na mão. Dirige-se ao Dr. Gomide, . adiantando a prancheta e a caneta, e ordena ao médico do hospital, com voz autoritária:.

Assina aqui.

Dr. Gomide olha direto para Dr. Jaime. Um ar de surpresa do rosto. Diz:

Você ?

Dr. Jaime mostra um sorriso maroto e responde:

Quem mais poderia ser?

E com voz autoritária, mantendo a prancheta entre os dois:

Assina logo aqui, antes de colocar a maca na ambulância.

Dr. Gomide ignora o médico e se dirige ao enfermeiro do hospital:

Vamos, encoste a maca, vamos transferir o paciente...

Dr. Jaime se interpõe entre a ambulância e o Dr. Gomide. Diz, com ar de autoridade e um pouco de gozação:

Antes, sua assinatura aqui na prancheta. Sem ela, nada feito.

Dr. Gomide afasta a prancheta num gesto de aborrecimento. Diz para Jonas, seu auxiliar:

Vamos, Jonas, o paciente não pode esperar.

Dr. Jaime não aceita o movimento do Dr. Gomide. Pega-o pelo pulso e diz, ainda mais sarcástico:

Primeiro, a assinatura...

Dr. Gomide puxa o braço, mas Jaime o segura com força. A prancheta escapa da mão do Dr. Jaime. Dr. Gomide tenta se livrar da garra de Jaime. Diz, com raiva:

Ah, moleque, você continua o mesmo, hein? Não se emendou...

Dr. Jaime diz para Dr. Gomide:

Moleque e irresponsável foi o senhor quando...

Dr. Gomide empurra Dr. Jaime querendo afastá-lo do caminho.

Dr. Jaime desfere um tapa no rosto do Dr. Gomide. Mesmo sendo mais baixo, atinge o médico com força. O som do tapa é claro e assusta todos os assistentes.

Renato, Clarisse e Dalva estão próximos da maca, do outro lado, e assistem, desesperados, a cena.

O Dr. Gomide, surpreso, tenta segurar a mão do Dr. Jaime. Dr. Jaime avança par Dr. Gomide, esmurrando-o na barriga.

O Motorista José aproxima-se do Dr. Jaime e o enfermeiro do hospital Jonas chega perto de Dr. Gomide.

De repente,.a cena se enche de movimento. Os dois médicos se atracam em uma briga de socos, tapas e safanões. O enfermeiro e o motorista, pretendendo separa-los, entram na confusão e os quatros se embolam na luta.

Dalva, a esposa do paciente, grita, as mãos desesperadamente apertando seu rosto.

Meu Deus! Que é isso?

Renato e Clarisse parecem petrificados.

Na maca, o paciente, já sem soro, faz um movimento débil.

A luta continua.

Clarisse debruça-se sobre o pai, e grita:

Papai! Papai!

A câmara focaliza o rosto do paciente, que exibe um estertor final. O rosto descamba para o lado, a boca semi-aberta. Os olhos fixam-se num ponto indefinido. A respiração cessa.

A câmara sobe e sem deixar de focar a maca, mostra os quatro homens em luta a poucos passos da maca.

Clarisse e Dalva se debruçam sobre a maca, ambas em soluços.

Renato sai do torpor e se dirige para o grupo que começa a se separar. Grita para todos:

Parem de brigar, seus desgraçados! Parem com isso!

O grito surte efeito. Os homens aprumam-se e procuram se limpar, passando as mãos pelas roupas, cabelos, braços.

As duas mulheres continuam debruçadas sobre o homem deitado na maca. Choram alto.

Renato está irado. Avança para os quatro, parecendo querer brigar com todos.

Grita, com raiva:

Seus filhos da puta! Enquanto vocês brigavam, meu pai morreu!

Todos param, como que petrificados.

A câmara vai se afastando, para cima, abrindo em panorâmica: todas as pessoas paradas, petrificadas. Uma brisa farfalha por entre as ramagens de uma árvore frondosa. A luz do teto da ambulância continua piscando. A uns dez metros de distancia e do alto, a câmara congela a imagem.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 30/09/2010

Conto # 629 (adaptação do conto 626) da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

Nota: trabalho inspirado em noticia de TV: dois médicos entram em luta corporal num Serviço de Atendimento de Emergência, na periferia de São José do Rio Preto(SP), e o paciente morre ao lado da ambulância que o levaria para o Hospital do Coração. Em 29 de setembro de 2010.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 12/01/2015
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