Amor é terno?
Gian Maria era a versão mais rebuscada do ser sistemático. Desconfiava que todos dele desconfiavam. Inclusive, e mais ainda, os mais próximos. No mais, trabalhava na burocracia de uma fábrica, num escritoriozinho só seu, pra não ter amolações, estudava à noite e complementava a vida trocando olhares furtivos com a eleita do coração, Rosilaine.
Filha dum alfaiate, moça também pacata, morigerada, que, melhor do que ir à missa, achava graça alcançada ir ver de sua janela, Gian Maria passar, e olhar para ela. E como aqueles olhos verdes, de ambos os lados, sentiam-se colados, predestinados...Esperançados.
E um dia coragem Gian criou e ao pai de Rosilaine, sua mão rogou. Pedido aceito e mais a história não azeito.
Rebordo apenas que Gian, tão logo iniciados os preparativos para o casório, for por uma dúvida assaltado:
E o terno para as bodas? Como fazer? Se confiasse sua feitura ao futuro sogro, poderia dar a entender que já começava o matrimônio
querendo se aproveitar, explorar... Mas se recorresse a um outro alfaiate, aiaiai, aí é que iriam dizer que estava esnobando o patriarca
a cuja filha estava para se unir.
E Gian perdeu noites de sono, caminhadas inúteis pelas vias da cidade e nada de dirimir a atorrante dúvida. Até que, até que lhe veio aquele estalo:
Viajou para o distante Goiás, onde tinha uns parentes que havia muito não visitava...e, não marcou passagem de volta. Em seu lugar veio uma carta, que fez correrem lágrimas nos olhos da amada. Mas, além da dúvida arreglada, e dívida renegada, não sei mais nada, a não ser que não mais namorou filha de alfaiate.