A Espera da Morte
Quando o arvoredo arqueou suas ramagens ensombrando as gramíneas que circundavam seu imenso tronco, Hargos recostou-se as pedras que brotavam no tapete verde da estação, ficou a fitar ao longe a silhueta de uma caravana que cortava o poeirento estradão, era-lhe possível ouvir o relinchar dos cavalos que puxavam as diligências, o burburinho das vozes misturavam-se aos guinchos dos risos infantis; aquilo o remeteu às suas aventuras, suas viagens pelo mundo a fora em sua busca interminável pela suprema paz e realização, mas hoje, ali naquela sombra, finalmente compreendera que seu tesouro se encontrava dentro do seu coração.
Ali ficou até que o sol despediu-se no horizonte, sua alma sentia-se revigorada apesar de seu corpo decrepito estar cansado das sendas trilhadas até aquele momento; sentia-se incrivelmente feliz, a noite avançava e as estrelas agora eram sua companhia junto ao prateado disco lunar, notou que pousou em um galho sobre sua cabeça uma coruja, que ficou a observá-lo com seus dois olhos dourados e curiosos.
Da escuridão do horizonte noturno veio então a morte, cavalgava em um cavalo negro de crina flamejante, parou bem em frente a Hargos e estendeu-lhe a mão ossuda, o velho de alma jovem assentiu ao gesto e cavalgou junto à morte pela infinidade da eternidade; gozava agora sua plena liberdade.