As Musas Morreram. Cap. 1 - Um Dia Quente e Contemplativo

Prazer, chamo-me Hans Kretzmann, moro na cidade do Rio de Janeiro no Estado do Rio de Janeiro, sou funcionário de uma revista feminina de grande circulação nacional e com o salário que me pagam sou capaz de sustentar um bom apartamento em um bairro de classe média alta onde ninguém praticamente se conhece. Possuo um monte de livros e filmes no meu acervo particular, pelos quais tenho grande estima, e um carro grande que me agrada muito. Começo a narrar aqui parte da minha vida e por agora não pretendo narrar meu passado; creio que ele é responsável direto pelo que sou hoje e o meu foco está na atualidade. Penso firme que vou levando a vida enquanto ela não me leva e se estou vivo até agora é por eu ter alguma serventia.

Moro sozinho e nem tenho cão ou gato como companhia, minha casa é uma bagunça de poeira e papéis empilhados e meus amigos quase nem aparecem por aqui. Por falar neles, são um tanto introvertidos e ocupados também; somos igualmente atarefados e com nossos reencontros distanciados entre datas, assim como isso aumenta a saudade que cria fendas na terra que me dão a impressão de que nossos abismos aumentam numa proporção que não sei calcular. Essa é uma semana quente de janeiro. Eu detesto esse mês que vem antes do carnaval para perturbar meu sono com barulhada nas ruas e muito calor que nem meu ar condicionado consegue conter por completo, e já que sofro de insônia as batucadas carnavalescas me fazem sair de casa com sono fracionado e de mau humor.

Saí do trabalho e cheguei ao meu apartamento, suspiro antes de girar a chave, organizo uma pilha de textos sobre minha estante empoeirada que não tive a menor energia para limpar nesses dias. Então me preparo para jantar a comida que trouxe da rua e ainda vou ter de completar uns relatórios que devo entregar amanhã. Continuo pensativo nas contas que pagarei nessa longa semana e vou para a janela ampla do meu apartamento para receber uma brisa vinda do mar. Com isso, percebo a calçada larga cheia de jovens e gente de meia idade como eu, todos eles caminhando e correndo.

Eu na minha magreza nem sou cobrado em ser mais esportivo, mas apesar dos meus 46 anos devo aparentar ter 56 anos, talvez meu sedentarismo, má alimentação, trabalho exaustivo e uma certa morbidez que tento sufocar em alguns fins de semana no álcool me tornem mais velho. Preciso tomar muita vergonha na cara para mudar meus hábitos sedentários e voltar a ser um homem da minha idade, mas uma certa tristeza faz minha preguiça.

Passo um olhar de soslaio para meus tênis de corrida novíssimos comprados há duas semanas, que comprei numa "promoção imperdível", daquelas que existe em todos os meses do ano e lembro que minha colega marombeira quase me obrigou a usá-los. É certo que ela tem razão em me cobrar para sacudir essa carcaça envelhecida na pista, tonificando minha pele flácida e quem sabe colocando um sorriso nesse rosto apático. Os esportes, saladas, sucos naturais e acompanhamento para uso de suplementos também geram um benefícios para o corpo. É lindo quando as pessoas ficam com seus corpos saudáveis e belos, mas quando noto o esforço que eles fazem para chegar a esse objetivo sinto-me fatigado e acabo comendo algum doce cheio de açúcar e sal acompanhado por um refrigerante ou me afogo em alguma fritura cheia de óleo.

Fiz exames anuais e até agora por alguma razão estranha minha saúde ainda não piorou, só aparento ser mais cansado e velho do que realmente sou. Não sou afeito por essas modernidades de viver falando ao telefone celular e nem muito menos consigo ficar conectado à internet todos os dias; não me imagino falando com várias pessoas que não posso tocar e conhecer por outros sentidos, discutindo meus tantos pensamentos, opiniões, crenças, costumes e tantas outras coisas que podem ser aceitas ou repelidas por lá, prefiro meus livros e filmes. Meu trabalho já me sufoca o suficiente, e apesar da prática da digitação com máquinas de escrever, então uso a informática só para trabalhar. Isso parece coisa de nerd e já basta eu ser fã de literatura e cinema, não quero ser comparado com essas pessoas que se tornam especialistas em vários assuntos, creio que isso me faria mais chato que já sou. Ocupo boa parte do meu tempo livre com atividades solitárias envolvendo literatura e cinema, sou amplo sobre essas duas artes.

Mensageiro Obscuro.

Agosto/2013.

Mensageiro Obscuro
Enviado por Mensageiro Obscuro em 25/12/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T5080829
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.