MIRAGEM

Certa vez... talvez no princípio dos tempos, isto se deu: dois nadas se encontraram.

Eram a Vida e a Morte.

– Sinto muito esta reunião. Há quem precise de mim na Terra – disse a Vida.

– Há-de existir quem também precise de mim – replicou, com ironia, a Morte.

– Sabe que tenho muito para lhe falar, não?

– Sobre o homem?

– É tudo que possuímos. Por que não falar nele? Ou será que não o possuímos?

– É evidente que o possuímos...

– Mas não é a respeito disso que desejo falar-lhe. É sobre o bem.

– O bem?!

– Sim. Desejo que estudemos um meio da fazer o homem sentir o bem na Terra.

– E necessita da minha ajuda?

– É claro...

Passaram algum tempo em silêncio, como se pensassem. Enfim, a Vida disse:

– É inútil! Compreendo agora que o homem não poderá sentir o bem, pois impôs o mal, ao pecar.

– Sim, – concordou a Morte, – mas creio que tive uma idéia!

– Qual...?

– Poderíamos criar uma Miragem...

– Uma Miragem?! E em que consistiria essa Miragem?

– Criaremos algo que faça o homem imaginar haver encontrado o bem. Será uma Miragem que irá persegui-lo a vida inteira.

– Mas isto seria cruel!

– Cruel? Tolice!

A Vida pensou um pouco. Depois, sentindo que nada mais havia a fazer, aceitou.

– Como irá se chamar essa Miragem? – Indagou.

– Felicidade – respondeu a outra, afastando-se.

R F Lucchetti
Enviado por R F Lucchetti em 22/12/2014
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