CHUVA FINA

Fazia frio.

A chuva fina que caía sem parar.

As vidraças da casa grande ficavam todas fechadas para que o esborrifo da chuva não caísse dentro dos quartos e salas.

A casa grande ficava na encosta do morro das esmeraldas, usufruindo de uma visão panorâmica para o vale do Mucurí.

De dentro da sala de leituras, Valquíria abria apenas uma pequena parte da cortina de linho fino, de cor marrom, que cobria desde o alto até ao rodapé da grossa parede onde jazia a janela envidraçada.

Pelo pequeno espaço que a jovenzinha abria naquela vasta cortina, ela observava a chuva fina e prolongada que cobria todo vale, deixando as pastagens tremendamente irrigadas.

Chuva fina que molhava os fios de arames farpados das cercas da fazenda.

Chuva fina que deixava as taboas e folhas de inhames totalmente molhadas nas beiras do riacho do taquaral.

Chuva fina que deslizava pelo vasto terreiro do engenho de cana.

Chuva fina que deixava o paiol de tábuas e o estábulo calçado de pedras, envolvidos pelas gotas de água que caiam sem parar.

Chuva fina que esbranquiçava os cafezais e molhava toda a mata verde no cume do monte dos sauás.

Chuva fina que aumentava o brejo na baixada de terra preta do seu Paulino.

Chuva fina que banhava o gado concentrado debaixo das árvores exuberantes da colina de dona sinhá.

Chuva fina de verão que esfriava toda campina e fazia Valquíria silenciar dentro daquela sala tão antiga e tão nova, tão penumbra e tanta solidão.

Chuva fina que molhou tantos sonhos naquele tão longínquo verão.

Chuva fina que cai hoje e traz tanta saudade de tantos verões e tantos lugares.

Chuva fina está pairando lá fora!

Chuva fina está aguçando a minha memória!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 22/12/2014
Reeditado em 20/03/2017
Código do texto: T5077768
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