575-A LENDA DA PONTE DO DIABO - História e Lenda

Nota explicativa: para melhor entendimento desta Lenda, seguem-se algumas informações históricas sobre a Ponte do Diabo, Ponte Gobbo, ou Ponte Velha.

HISTÓRIA

A Ponte Gobbo, (conhecida também como Ponte Velha ou Ponte do Diabo) é uma antiga ponte de perfil irregular, que atravessa o rio Trebbia em Bobbio, na Província de Piacenza, na região Emilia-Romana, norte da Itália.

A época da construção da ponte, chamada de Gobbo pela irregularidade e pelas corcovas dos seus arcos, não pode ser datada com precisão, mas é evidente que se trata de uma construção da era romana, talvez contemporânea da conquista do burgo celta pelo exército de Roma. Certamente recebeu diversas reformas e reconstruções parciais com o correr do tempo.

Foram encontrados vestígios de outra ponte mais antiga, que podem ser datados do periodo Alto Medieval. A construção que se sobrepôs parece ser do século VII, obra dos monges da Abadia de San Colombano. Nos Arquivos Historicos de Bobbio encontra-se um documento datado de 6 de abril de 1196, que registra despesas de manutenção da ponte.

A lenda da Ponte Gobbo refere-se a San Colombano, Monge, abade e missionário irlandês, nascido en Navan-Irlanda, em 540 e falecido em Bobbio-Piacenza, em 23 de novembro de 615. Ficou notável por ter fundado numerosos mosteiros e igrejas pela Europa. Chegou em Bobbio no ano 614. Começou reformando a antiga Igreja de São Pedro, construindo ao redor uma estrutura de madeira que constituiu o primeiro núcleo da Abadia, conhecida hoje como Abadia de San Colombano. Foi canonizado em 26 de novembro de 642. Em Bobbio acontece a festa anual deste santo, em 26 de novembro, coincidente com a data de seu falecimento,

A LENDA

O Rio Trebbia ao passar pelo pequeno burgo de Bobbio, na província de Piacenza, corria por entre as ruinas de uma velha ponte medieval, que há muitos anos passados, ligava a pequena cidade de Bobbio à Abadia e à igreja de Sao Pedro. Ao lado da igreja, uma hospedaria de boa fama, com uma taverna ao lado, pertencente a um tal de Giovanni Osti. Servia de pouso para os viajantes e atendia a população dce Bobbio, quando, nos dias de festa, iam até a Igreja de São Pedro.

O movimento da taverna e da hospedaria era pequeno, devido à precariedade da travessia do rio, principalmente na primavera, quando o degvelo nas montanhas engrossava as aguas do rio. .

=Se houvesse uma boa ponte, as pessoas viriam com frequência ao lado de cá, dizia Giovanni.

Este era o sonho não só de Giovanni Oste como também do abade Dom Colombano, encarregado da administração da Abadia e da Igreja de Sao Pedro.

Um dia apareceu na taverna um velho corcunda com um cajado, que puxou o assunto da construção da ponte.

=Você falou que daria tudo para ter uma ponte sobre o rio, que aumentaria o movimento da hospedaria e da taverna, disse o velho. Mas seria capaz de vender sua alma ao diabo em troca de uma ponte nova?

O taberneiro deu uma risada ante o absuro da pergunta. Mas, por brincadeira, concorda:

=Sim, eu daria minha alma ao diabo, se ele fizesse, da noite para o dia, uma ponte aqui, sobre o rio.

O Velho, que era o próprio demônio disfarçado, segura a mão de Giovanni e tambem começou a gargalhar.

=Pois, então, meu amigo, o negócio está fechado! Bebamos à nova ponte.

Giovanni, ainda pensando tratar-se de brincadeira do velho, serviu dois copos de vinho e ambos brindaram:

=À nova ponte! = disse o taverneiro.

=À sua alma ao diabo! = Disse o velho com o cajado.

Na manhã seguinte, por entre a nevoa, surgiu a ponte. Giovanni viu então que a conversa da noite anterior tinha sido, realmente, um pacto com o diabo.

A população, os monges, Dom Colombano, todos ficaram surpresos. Alguns diziam que era milagre de São Pedro, mas o Abade descartou a idéia, pois percebia algo malígno naquela ponte torta e irregular.

Mas coisas estranhas começaram acontecer: as pessoas que passavam sobre a ponte, gritavam palavrões e xingamentos pela dificuldade em subirem as corcovas, e depois de muito cansaço, se dirigiam à taverna e entregavam-se à bebida, esquecendo-se das familias, do trabalho e da orção. Um dia a mulher de Giovanni, Dona Mariúcha, levantou-se bem cedo, antes de amanhecer e viu algo que a deixou petrificada de medo: da névoa iluminada pelos primeiros raios da manhã saia um redemoinho que girava sobre a ponte, se transformava num demonio e depois e um homem, no qual reconheceu o velho corcunda com o cajado. Naquela manhã, ela foi à missa na Igreja de São Pedro e contou a Dom Colombano o que tinha visto.

É por isso que vem cada vez menos gente à missa, pensou o Abade. Então, estabeleceu um plano com a mulher do taverneiro. Na tarde do mesmo dia, ela convidou o velho com o cajado para o jantar e o divertiu bastante, enquanto o embriagava. Finalmente, o velho caiu num sono e Dom Colombano, com os monges e alguns paroquianos que ainda permaneciam fiel, iniciou a bênção da ponte. Ao mesmo tempo, mandou que transformassem em oratórios as quatro pequenas torres sobre as corcovas mais altas. Nos oratórios foram colocados crucifixos e imagens de santos da devoção dos habitantes de Bobbio.

Quando o velho acordou na manhã seguinte, e viu que a névoa já havia dissipado e viu também Dom Colombano, que levantava para o céu o seu báculo consagrado . Então, o velho, o verdadeiro diabo personificado, começou a dizer palavras diabólicas e xingar em latim. Antes de desaparecer numa nuvem fedendo a enxofre maldisse a ponte. Batendo com seu cajado torto, prometeu que quando a religiosidade dos fieis diminuir, encherá o rio Trebbia e destruirá a ponte, que desde então é conhecida como Ponte do Diabo, pela sua origem e Ponte Gobbo, por suas corcovas.

O taverneiro, arrependido do pacto, procurou o Abade, com quem se confessõu. Como penitência, Dom Colombano lhe deu a obrigação de usar, pendurado ao pesconço, um cordão com o Crucifixo, a fim de evitar a aproximação do demônio, sob qualquer disfarce.

E ante a ameaça do Demônio, de retornar quando os habitantes de Bobbio deixassem de rezar, o fervor religioso dos fieis aumenta cada vez mais com o passar do tempo.

ANTONIO GOBBO =

Belo Horizonte, 19 de novembro de 2009 =

Conto # 575 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/12/2014
Reeditado em 15/12/2014
Código do texto: T5069357
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