Uma História de Fracasso

Sempre fui do tipo pensativo. Quando pequeno, podia passar horas calado, somente pensando e fazendo questionamentos internos; coisa que meus pais estranhavam, mas nada diziam. Sempre fui de família rica e por isso tinha um extenso “arsenal” de livros para me deleitar. Gostava de folhear obras de autores como Emmanuel Kant, Nietzsche, entre outros, e sempre sonhei em me tornar um filósofo, como meus grandes ídolos.

Sempre tive facilidade em escrever, e também sempre me esforcei ao máximo para poder absorver o máximo de conhecimento possível. Sempre guardei a frase que meu falecido avô me dizia; “tenha sempre foco, e nunca desista”. Ainda sinto falta dele.

Na adolescência, decidi finalmente compartilhar meus pensamentos e questionamentos, e comecei a escreve-los. Criei um blog, onde quase que periodicamente, escrevia meus pensamentos. Não tinha muitos fãs, aliás, não tinha nenhum fã. Minhas postagens recebiam sempre comentários depreciativos, e de mau gosto; muitos até riam. Não tinha muitos amigos, e os poucos que tinha não me levavam a sério. Faziam chacota de mim por trás, e diziam que meus questionamentos eram pura bobagem. Nada disso me abalava, pois nunca esqueci das palavras de meu avô.

Ao terminar meus estudos na escola, decidi optar pela faculdade de filosofia (o que não deixou meus pais contentes), lugar onde iria aprender mais sobre meus mestres e sobre meus pensamentos singulares. Não era o melhor aluno do curso, mas era com certeza o mais esforçado. Por mais que eu lesse todos os livros possíveis, meus trabalhos do curso eram sempre ridicularizados por meus professores, que diziam que “pelo menos eu rendia boas risadas”. Não entendia o que eu fazia de errado. Por mais que eu me esforçasse, nunca me levavam a sério. A única coisa que me acalmava e me dava esperanças era a frase confortante de meu avô. Nossa, como eu sinto a falta dele.

Consegui terminar o curso, talvez por pena por parte de meus professores, ou pelo meu “carisma” (meus professores sempre achavam que eu estivesse brincando, e nunca levavam meus trabalhos a sério). Ao terminar o curso, decidi transformar meu hobby de escritor em um trabalho. Escrevi meu primeiro livro, no qual criticava uma série de fatores em nosso modelo de educação. Quando fui entregar o livro ao editor, uma surpresa; ele disse exatamente: “nunca pensei que pudesse rir tanto”. Mais uma vez não fui levado a sério. Mesmo me sentindo ultrajado, saí de seu escritório com o contrato de publicação; o dinheiro era muito para ser recusado. “Ainda podem haver leitores que levem minhas ideias a sério”, pensei, esperançoso.

5 anos depois, aqui estou eu. Entendi meu verdadeiro papel no mundo. Percebi que a sociedade não quer receber críticas, e o sofrimento está tão banalizado, que qualquer forma de alerta é vista como forma de humor. Não vejo assim um jeito melhor de me expressar, que por forma de humor, pelo menos assim consigo me sustentar e “ser levado a sério”. Atualmente, tenho sucesso e visibilidade como humorista, e tenho pessoas que me “entendem”, e riem de minhas “piadas”. Não espero mais que algum dia alguém entenda que estou falando sério.