O bolo sem Zezé
O ano era 45, e com a guerra terminada, Luís e Zezé sentiram-se à vontade para celebrar a paz, rumo à batalha conjugal. E foi como num zás, que o jovem Padre Guerino os uniu na matriz do Pilar. Vinte e dois de maio, para melhor se recordar.
A data auspiciosa há de ter caído num sábado, preferido do operariado, pois, fora algum feriado, conseguir folga do trabalho era é que era mesmo trabalhoso, até para o domingo do esponsal gozo.
E tudo se fez nos conformes, embora na correria, pois havia que se aproveitar o dia. Carpe diem, já diziam os romanos, conquistadores de truz, que, gastando o seu latim, espargiam luz - além do brilho de suas espadas.
A comemoração do ato, foi, no entanto, a mais breve e singela possível, pois cumpria ser pontual para que o trem que não espera, nem se retém. Urgia embarcar rumo a Belo Horizonte, para a lua de mel, que incluía hospedagem no hotel Cruzeiro, e passeio pelo parque municipal, um regozijar verdadeiro.
Só que Zezé, naquela insana lida, chamada para a saída, na corrida, de seu próprio bolo, nem ao menos pode provar. E hoje sessenta e nove anos passados, se alguém souber de boa confeiteira, favor avisar.
Vestal do decoro e da pudicícia, a confreiteira Kathie nos brinda com mais uma delícia:
Ir ao próprio casório sem provar do bolo//
E sem ter se deliciado sem decoro//
É tentar fazer da baliza num golo//
E do gozo, experimentar, gemendo em coro/