Conto de Natal

Todo ano era assim.
24 de dezembro... Eu e meus irmãos eufóricos na hora de escrever a cartinha para Papai Noel. Escolhíamos sempre uma bicicleta. Colocávamos a cartinha debaixo da cama e quase não dormíamos esperando o Papai Noel chegar. Acabávamos dormindo cansados de tanto esperar. Mas, pela manhã quando acordávamos, a primeira coisa a fazer era olhar em baixo da cama para ver os presentes.
Era sempre uma decepção, pois nunca ele trazia o que pedíamos.
Me lembro que em um desses anos, acordei e achei uma linda boneca no lugar onde eu tinha deixado a minha cartinha. Tomei café e fui correndo pra casa da minha amiga mostrar a boneca pra ela, numa alegria enorme. Pensava também que todas as outras crianças estavam alegres com seus brinquedos.
Mas a minha alegria acabou quando ela me disse que não era papai noel nenhum que trazia os brinquedos. Os presentes eram comprados pelos nossos pais.
Senti naquele momento uma tristeza tão grande que aquela boneca parecia não ter mais importância. Sai segurando ela pela mão, não mais abraçada como cheguei. Me lembro que quando cheguei na rua, via as crianças sem brinquedos nas mãos. Elas olhavam pra mim e para minha boneca. Se eu desse a minha boneca pra uma delas, as outras iriam querer também. E depois minha mãe iria me dar uma bronca. Não entendia por que com 8 anos de idade me sentia tão triste daquele jeito porque o Papai Noel não tinha visitado elas.
A fantasia do Papai Noel me fez sofrer muito nesse dia. Eu me fechei no banheiro pra chorar com aquela boneca deitada do lado. Ela não poderia conversar comigo. Nem tão pouco sentia o desprezo que lhe causei.
Eu sabia que as outras crianças não estavam com seus brinquedos porque seus pais não puderam comprar. Quanto mais eu lembrava, mas chorava.
Fui começando a entender por que nunca ele trazia uma bicicleta. Claro, meus pais não podiam comprar uma. Entendia porque muitas vezes nós achávamos tecidos enrolados em papel de presente. Era o que nós precisávamos no momento.
Fui crescendo e fui fazendo parte dessa fantasia. Me lembro que um dia meu irmão acordou mais cedo e viu que não tinha brinquedo e sim tecido de novo para fazer uma roupa nova. Começou a chorar querendo brinquedo. E eu como já era mais crescida tive que ir cedo na loja comprar um brinquedo e colocar escondido debaixo da cama.
E o choro acabava e tudo ficava bem. E assim foi por muito tempo.
Mas aprendi uma coisa com toda essa tristeza que senti. Aprendi com a fantasia do Papai Noel que nós ganhamos o que precisamos e não o que nós queremos.
Entendi que a gente só fica bem se quem está ao nosso lado estiver bem também.
Aprendi que não precisamos de muito para sermos felizes.
Deus é assim... Dá o que a gente precisa, não o que a gente quer.

 
Élia Couto Macêdo
Enviado por Élia Couto Macêdo em 07/12/2014
Reeditado em 23/03/2015
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