564-CASAMENTO EM CANÁ-História de Jesús- cap.9

Nota- entre o cap. 4 e o cap. 9 serão inseridos os seguinte capítulos:

-cap.5- A Volta de Alexandria

-cap.6- Apresentação no templo

-cap.7- Vivência com os essênios

-cap.8- Viagem à Índia, com são Tomé

Jesus voltou ao lar em Nazaré, após longa ausência. Viajara a paises distantes, havia vivido alguns anos com os essênios, fora batizado pelo primo João às margens do rio Jordão e passou a viver com José e Maria.

Aos trinta e poucos anos, Jesus era alto e magro, tinha cabelos longos, negros e anelados. Devido aos longos períodos ao ar livre, sua pele tornara-se morena, em contraste com José e Maria, ambos de tez muito clara. Deixara a barba crescer, o que lhe dava aparência de mais idoso. Era simples nas maneiras, afável, de fala mansa, mas usava as palavras com exatidão.

Suas conversas com José eram demoradas, enquanto os dois trabalhavam na pequena oficina, e tomavam as tardes do ancião. A inquietude de Jesus, suas indagações e contestações preocupavam o velho carpinteiro. Através dessas conversações, José ficou sabendo que Jesus viajara por toda a Judéia e além; que visitara o Egito, a Grécia, a Babilônia e andara por todo o remoto oriente.

Quando não estava na oficina, Jesus encontrava-se com os sacerdotes, e as discussões sobre o Torá, o Livro Sagrado, levavam-no à divergências e desacordos com os mestres da Lei.

Maria e José preparavam-se para assistirem o casamento de amigos na vizinha localidade de Caná, situada alguns quilômetros ao norte de Nazaré. Era um povoado aos pés de colinas que correm de leste a oeste cujas casas brancas se destacavam contra o fundo de montanhas.

Jesus acompanhou-os. As bodas se realizaram dentro da tradição, e a festa durou três dias. No terceiro dia, aproximou-se de Jesus uma mulher de porte altivo, a face escondida por véus, os olhos negros e profundos. A aproximação de uma mulher desacompanhada a um homem não era uma atitude correta, de acordo com a tradição. Mas aquela mulher era diferente de todas que Jesus já vira.

— Mestre meu coração se enleva ao conhecê-lo. Deixa-me seguir as marcas de suas sandálias. — Disse ela.

José puxou Jesus de lado e disse:

— Ela é Maria de Magdala, mulher de triste fama. Dizem ser prostituta. Não te convém ser visto com ela.

Jesus, entretanto, respondeu:

— Ela me conhece e eu também já sei de quem se trata. Se quiser me seguir, será a primeira, a minha predileta.

Nesse momento, chega Maria, a mãe de Jesus, que diz:

— Filho, o vinho está quase acabando.

As festividades, já na tarde do terceiro dia, estavam se finalizando. Ainda assim, a falta de vinho era visto com uma desonra para os noivos e respectivas famílias. Seria o fim, de forma humilhante, de tão bela festa.

Jesus, falando mansamente, respondeu à mãe, com o olhar distante, como se estivesse distraído:

— Minha hora ainda não chegou.

Maria de Magdala, que estava ao lado de Jesus, falou:

— Mestre, sabemos que podeis ajudar.

Jesus pediu, então, que fosse conduzido à sala onde se guardavam as talhas e ânforas com vinho, um local abaixo do solo, que mantinha o frescor e a qualidade da bebida.

— Vede, senhor, as talhas estão vazias. — Disse o encarregado de servir o vinho.

Jesus examinou o local. Viu, no fundo, algumas ânforas lacradas.

— Que contém aquelas ânforas? — Perguntou.

— Vinho de safras muito antigas, que não está próprio para ser servido.

Jesus mandou que abrisse uma das ânforas. Experimentou o vinho e achou-o de boa qualidade.

— Está ainda melhor do que o que já tomamos. Passe para as talhas e mande servir.

Jesus permaneceu no local até que as talhas estivessem cheias. Como as ânforas eram grandes, o vinho nelas contido foi suficiente para encher seis talhas. Enchidas as talhas, Jesus ordenou que as levassem ao chefe de cerimônias, para aprovação, antes de servir aos convidados. Este experimentou o conteúdo das talhas e achou que era vinho de ótima qualidade. Disse então ao noivo:

— É costume servir primeiro o vinho melhor, e quando os convidados já estão satisfeitos e embriagados, servem o vinho de segunda qualidade. Mas vejo que tu guardaste o vinho melhor para o final da festa.

Ao final da festa, Maria Magdalena falou a Jesus:

— Mestre, rogo a vossa visita. Minha casa e minha cidade ficarão honradas com vossa presença.

Jesus fitou-a com o olhar profundo e meigo, e respondeu:

— Sim, eu a visitarei em breve. Na verdade, por Magdala iniciarei meu caminho.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 30 de setembro de 2009

Conto # 564 da Série 1.OOO-Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 03/12/2014
Reeditado em 03/12/2014
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