558-O NASCIMENTO NA MANJEDOURA-História de Jesus-1o.

O NASCIMENTO NA MANJEDOURA

UMA HISTÓRIA DE JESUS – 1ª. PARTE

A confusão e as dúvidas sobre a data exata do nascimento de Jesus de Nazaré são tantas que não se pode afirmar qual tenha sido o ano exato em que tenha ocorrido. O calendário em uso na época no mundo dominado pelos romanos era diferente de outros calendários locais. Por exemplo, em Jerusalém adotava-se o chamado Calendário de Hillel. Jesus teria nascido no ano entre os anos 747 e 748 do calendário romano, o que colocaria este fato entre os anos sete e seis do calendário gregoriano.

Apesar das divergências entre calendários, historiadores e a Igreja Católica, guardiã e propagadora da biografia de Jesus, selecionada entre inúmeros escritos e contida nos quatro evangelhos, o nascimento ocorreu em Belém está ligado a um fato histórico.

Por determinação do rei Herodes, um recenseamento geral deveria ser realizado em toda a Judéia, o que levou José e Maria à cidade de Belém, terra de sua família, descendentes de David, o grande rei dos Judeus, e de cuja genealogia muito se orgulhavam.

A viagem foi exaustiva, pois Maria estava no último mês de gravidez e um burrico era a montaria usada para diminuir o esforço causado pela longa jornada. Encontraram-se com muitas outras famílias, que se deslocavam por toda a Judéia, a fim de atender ao decreto de Herodes.

Por este motivo, quando o casal chegou à cidade de Belém, esta se encontrava cheia de viajantes. José procurou uma pousada ou uma casa que pudessem abrigá-los. Nada encontrou, pois todas estavam ocupadas.

Era inverno. O frio era outro tormento, além da canseira. A tarde curta transformava-se em noite. Maria não se queixava, mas sentia os prenúncios do parto. José, já idoso, sofria nos ossos o cansaço e o frio. Desanimado, não sabia que rumo tomar. Permanecer na cidade não seria conveniente, pois estaria ao relento e sujeitos a toda sorte de vexames. Seguindo a intuição, dirigiu-se para fora da cidade, na direção de um pequeno morro, onde, disseram-lhe, uma caverna poderia abrigá-los.

Puxava o burro em cujo lombo Maria procurava manter-se. Ao passar pelas ultimas casas, no limite da cidade, viu um estábulo onde estavam alguns animais, abrigados da friagem da noite. José verificou que havia um espaço entre as vacas e ovelhas.

José entrou, puxando o pequeno burro com Maria sobre ele. Havia palha e capim seco pelos cantos do estábulo e José a usou, amontoando-a. Estendeu seu manto sobre a palha e colocou, com carinho e cuidado, Maria, que se queixava de dores pelo corpo. No outro canto do estábulo havia uma manjedoura, com capim limpo.

Os animais não se incomodaram com a presença dos recém-chegados. As vacas continuaram no plácido ruminar e as ovelhas prosseguiram no sono. Livre do peso da mulher grávida, o burro comeu um pouco de capim seco e também se acomodou.

Maria não se sentia bem. Sobre o manto, revirava-se de um lado para o outro e não encontrava uma posição confortável. José, cansadíssimo, e sem saber que a esposa já estava sentindo as dores do parto, caiu num sono profundo do qual só acordou com o choro de uma criança.

A criança nascera e ele nem se dera conta!

Tratou de abrigar a esposa e bebê, verificando se tratar de um varão.

Os animais acordaram com a movimentação no estábulo. O recém-nascido aconchegou-se ao peito de Maria e José deitou-se ao lado de ambos, para ajuntar o calor de seu corpo ao da mulher e da criança.

Em pouco tempo todos dormiram.

A manhã chegou e com ela os pastores que, a princípio assustados, mas em seguida compreendendo que a mulher havia dado a luz à criança, trataram logo de ajudá-los. Por entre os animais, guiaram José e Maria, com o filhinho aconchegado ao seu corpo, até a casa de Jezael, o proprietário do estábulo e dos animais.

Jezael era homem de grandes posses, adquiridas quando tinha sido caravaneiro e mercador. Não pensou duas vezes antes de ajudar a pequena família, falando com a esposa:

— Miriam, providencie roupas para o nenê e alimentos para este homem e sua mulher.

Uma escrava chegou com uma ânfora com água aquecida, para o casal se limpar. Outra tomou a criança e levou-a para um banho morno. Quando o trouxe de volta, estava agasalhado em suave manta.

Miriam preparou pessoalmente a cama do casal, sobre a qual um manto enorme fora estendido.

—Vocês podem repousar, enquanto mando servir-lhe tâmaras, coalhada e pão.

Preocupado, e sem qualquer experiência para agir naquele momento, quedou-se José ao lado da esposa e do filhinho. Feliz e assustado, ao mesmo tempo.

—Senhora, disse ele, não queremos causar-lhe transtornos...

Passados oitos dias do nascimento, José e Maria, cumprindo a risca a Lei Judaica, levaram o filhinho para ser batizado e circuncidado. Após o ritual da circuncisão, que consiste em cortar e extrair o prepúcio, a delicada pele que cobre o pênis, o menino foi batizado, recebendo o nome de Yeshua bem Yoseph. Ficaria conhecido, anos mais tarde, no mundo inteiro, pela tradução grega de seu nome: JESUS.

José já tinha então idade avançada, com relação à Maria. Era circunspeto e calado, guardando para si os conhecimentos que tinha da Lei, à qual obedecia como bom judeu. Não discutia seus problemas com ninguém, nem mesmo com os sacerdotes ou com Maria.

Em Belém, ao sentir a responsabilidade da paternidade, encontrou-se numa encruzilhada de sua vida. De Nazaré não guardava boas recordações, pois fora alvo de zombaria por algumas pessoas, quando souberam que Maria estava grávida antes de se casar com José. Já naquela ocasião, pensara em deixar Maria, mas não o fez justamente para não denegrir a honra da noiva. Assumira a paternidade da criança no ventre da esposa e jamais falou a quem quer que seja de sua intenção.

Sua maneira calma e metódica de viver não o impelia a grandes mudanças. Mas agora sentia que não deveria voltar à pequena Nazaré, onde trabalhara por muitos anos como marceneiro e carpinteiro. Demorava-se em abandonar a casa de Jezael, que insistia na permanência da família até que tivessem condição de viajar com o bebê.

A decisão foi tomada quando recebeu a visita de três homens.

Jesus estava com alguns meses quando uma grande caravana, vinda do oriente e com destino à distante terra do Egito, parou por alguns dias em Belém. A caravana era composta de mais de 100 camelos e cerca de 200 pessoas, computados os serviçais, escravos e capatazes. Pertencia a três homens, conhecidos de Jezael, desde os tempos em que viajavam juntos em caravanas que iam da Judéia para todos os cantos do mundo. Chamavam-se Melquior, Baltazar e Gaspar

Jezael encontrou-se com os velhos amigos na praça central da cidade. Falou-lhes das poucas novidades e da família que estava abrigada em sua casa e do nascimento de um menino no estábulo de sua propriedade, entre os animais. Tamanho era o entusiasmo com que ele se referia à família que os caravaneiros quiseram visitá-lo e conhecer José, Maria e Jesus.

Qual não foi a surpresa de Jezael quando os amigos apareceram vestidos em ricas roupagens e trazendo presentes para todos.

—Você é nosso amigo muito especial, por isso prestamos-lhe estas homenagens.

Para Jesus, trouxeram mirra, incenso e uma bolsa recheada de ouro.

—Os amigos de nosso amigo são também nossos amigos. — Disseram, citando o velho adágio oriental.

Dessa visita e da amizade que fez com os caravaneiros, José obteve a resposta às suas indagações íntimas: seguir, levando Maria e Jesus, com a caravana para a distante e misteriosa terra do Egito.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 4 de setembro de 2009

Conto $ 558 da Série 1OOO Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 29/11/2014
Reeditado em 03/12/2014
Código do texto: T5053071
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