Galhos secos (uma experiência de quase morte)

A morte veio como um sopro renovador a mente desse monologo de certezas céticas emocionais, todavia ,naquele instante ,me deparei com uma situação nunca vista por olhos vivos pulsantes.

Havia visto de maneira concreta os conflitos diários que nos prendiam ao nosso mundo particular, alimentando esse autismo emocional. Vi pessoas caindo em ambientes enlabuzados, vi rainhas, reis, que ,dispuseram de todo poder e luxo em prol de seus interesses. Com belas vestes costurados pelos melhores alfaiates de sua época, encontravam-se mergulhados na hipocrisia que cheirava aquele local.

Logo me dei conta que não habitava mais o mundo que costumava aventurar, estava me dando conta que todo estudo e conhecimento que foi a mim adquirido não seria mais útil para sobreviver naquele local.

Havia ainda um poder que eu não tinha descoberto em mim, algo que pulsava instintivamente, alguns chamam de Deus, mas para mim parecia mais a certeza de que tudo aquilo seria um meio de meu inconsciente provar que meus atos não tinham um suporte ético coerente.

Entrei naquele instante em um conflito de razão e emoção, não sabia se aquilo tudo era real ou fazia parte de um surto que o meu corpo havia alcançado ,mas, movido pela curiosidade, comecei a andar por aquela zona trevosa que me foi dada a oportunidade de visitar, via o choro,via a fome a sede, via o desespero de mentes altamente perturbadas.

Logo, deparei-me com gangues que roubavam um fluido que saia dos vícios e das feridas daquelas pessoas em sofrimento, algo leitoso em tom de violeta que nunca havia visto em toda minha existência, então me aproximei de uma jovem de cabelos crespos ,olhos tão escuros quanto uma jabuticaba, pele macia e negra, não me aparentou ser pessoa digna de estar naquele local, ela era doce e passava um ar de lucidez incrível, perguntei a ela :

- O que fazem estes homens que roubam essa matéria desses seres que aqui habitam?

Ela sorriu ironicamente e me respondeu :

- a fraqueza daquelas pessoas fazem com que esses seres malignos se alimentem de sentimentos altamente materiais, podendo ate voltar ao mundo dos mortais e levando sua ideologia . ' Não mecha com os Dacks! ' -Berrou a jovem com um ar de possessividade- Isso acabou se tornando o nosso lema, aconselho que siga em frente e não cruze o caminho deles, agora saia daqui,não posso falar mais.

Afastei-me assustado com a resposta e vi,agora, a hierarquia que havia sido construída naquele local, uma representação de ditadura, algo censurado, não por um regime politico, mas pelos conhecimento absurdo que aqueles ladrões tinham daquele mundo e a forma maligna que eles usavam para alastrar o terror.

Andei ate uma árvore de galhos secos que estava próxima a mim, e comecei a refletir se ali não se tratava do inferno que as religiões tanto falavam ,talvez estava cercado por demônios, ou talvez, eu seria mais um deles.

Naquele instante abri mão da razão e enxerguei com os olhos do peito, sentia um remorso de tempo perdido, naquela hora via como fui um pessoa cruel e mesquinha,movido pelo egoismo. Me senti individuo não mais latejante de razão, precisava fazer algo para sair dali,foi então que um cordão de cor prateada ligado ao fundo do meu pescoço apareceu condensando-se em brilho radiante que chamava atenção de todos daquele local, sentia mais um vez meus órgãos batento e minha respiração fraca,foi então que ao toca aquela bela manifestação senti um puxar extraordinário!

Me sentia totalmente anestesiado ,ouvir um sussurro que dizia :

-Conseguimos, ele voltou !

Logo,abri os olhos e me deparei com alguns estranhos vestidos de branco. Tive a certeza que estava entre médicos e enfermeiros , um deles me disse :

- Perdemos você por algum tempo rapaz, mas graças a Deus.. ou ao desfibrilador, você está mais vivo que antes !

Senti que aquelas palavras teriam trazido um real significado de toda essa experiência ,talvez eu não seja o dono do mundo ou não seja um instante de tempo definido por nascimento e morte, não sou um nome , sou uma manifestação da consciência que descobriu que a vida vai alem do que os livros podem explicar,sou uma imperfeição em busca da cura, galgando ao encontro de vencer meus demônios, ou apenas mais um louco que visitou seu inconsciente e encontro seu verdadeiro manicômio ,a partir dali me tornei apenas, eu .

Pedro André
Enviado por Pedro André em 24/11/2014
Reeditado em 24/11/2014
Código do texto: T5047481
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