A carta encontrada
Noutro dia, eles saíram por sair, só para não ficar em casa , sem nada para fazer.
Deram a volta no bairro com calçadas de pedra, as pedras foram trazidas de Portugal e seus desenhos ovalados eram incrivelmente bonitos, criavam nuances de cores intercalando-se uma a outra com pequenas pedrinhas azuladas.
Uma lhes chamou a atenção estava solta e bamba, resolveram mexer e levantá-la, encontraram um papel dobrado, parecia um papel vegetal bem gasto, desdobraram com cuidado e leram as palavras já quase apagadas com o tempo:
"Talvez fosse o poder supremo, mais forte que a minha vontade de lutar agora? Hoje espero a ida da minha vida embora, não me resta mais nada além de me entregar à morte. Talvez a sorte me sorria, ou me entristeça quem sabe, trazendo-me o socorro pretendido, meus olhos já choram as lágrimas que deixaram de cair a tempo, talvez eu sobreviva aos cortes profundos na carne. Mas se por ventura alguém ler esse pequeno pedido de ajuda, leve a minha amada Constance, o beijo que deixei de lhe dar, o abraço que deixei de sentir e todo amor que ainda tenho por ela em meu coração, diga ainda que eu a esperarei na eternidade. Entregue nesse endereço: Rue Ilusion nº 12. junho de 1941."
Olharam um para o outro e se perguntaram:- O que faremos agora?
No dia seguinte, pegaram uma lista telefônica e procuraram a rua indicada no bilhete, foram até lá. No local existia uma casa velha e quase abandonada pelo tempo, bateram na porta e veio uma senhora de cabelos brancos, entregaram o bilhete e lhe contaram onde foi encontrado, ela o abriu com as mãos trêmulas e leu deixando escorrer uma lágrima no rosto. Ela sorriu e disse:
- Ele se lembrou de mim até o seu último instante, realmente me amava e eu nunca acreditei.
A doce senhora fechou a porta atrás deles.
A noite se fez escura e as estrelas voltaram a brilhar.
" Palavras ditas nem sempre vão ao vento, às vezes elas soam por anos a fio em nossas mentes, até se fazerem reais"