O menino e sua carta

Aquele menino sonhava com Deus todos os dias.

Pensava em seu sorriso, no quanto amava a todos. Sentia medo de que, por ser criança demais, fosse o último da fila a ser ouvido. Mal sabia ele que por sua inocência e piedade, suas leves orações subiam rapidamente para o Céu, brincando no ar assim como o desenho esfumaçado dos incensos.

Um dia, uma rica senhora da cidade anunciou sua partida para uma grande viagem. Iria para um distante país, onde nenhum outro morador da pequena cidadezinha jamais fora. Entre os lugares que passaria, um famoso santuário, onde milhares de peregrinos acorriam todos os anos para pedir graças.

Foi proposto na escola onde o menino estudava, que quem sentisse a vontade de escrever uma carta para Deus com algum pedido, oração, ou simplesmente para uma saudação, poderia entregá-la ao fim da aula para a professora, que levaria à rica mulher para ser depositada no santuário.

Os alunos não se importaram muito, na verdade, nem sabiam o que era um santuário, assim como o menino, mas a Deus conheciam. Mesmo assim, ignoraram a proposta das cartas.

O menino, por sua vez, borbulhou em ideias sobre o que poderia escrever em seu simples papel para que fosse lido por Ele, o Senhor com quem conversava todos os dias e com quem falava sobre todos os assuntos que vinham ao coração.

Escreveu sua cartinha, pedindo ao seu Grande Amigo, a oportunidade de um dia crescer e poder, assim como aquela senhora, visitá-lo no seu tal de santuário, e levar cartas de todo o mundo consigo. Queria poder dar o recado de todas as pessoas ao Bom Deus que sempre ouvia a quem falasse.

Guardou a carta no meio do caderno e continuou as atividades da aula. O fim do dia chegou e ninguém mais falou das cartas, nem os alunos, nem a professora.

O sinal de saída soou e a carta não fora recolhida. O menino sentiu vontade de pedir à professora que lembrasse aos outros de escrever, mas era muito tímido e não teve coragem. Seguindo a massa de alunos que seguia pelo corredor foi tristonho para a casa com sua carta.

Mais a noite, contou para a mãe o que havia acontecido na escola mais cedo, falou da viagem, da carta, da timidez que lhe impedira de lembrar a professora.

A mãe se propôs a ajudar o filho a entregar sua carta à senhora que viajaria. Fez alguns telefonemas cheios de esperança para a casa da mulher, mas já não adiantava mais, uma das filhas informara-a que a senhora já estava no aeroporto, em outra cidade, e, provavelmente já estaria embarcando.

O menino dormiu com a carta e um amargo ressentimento por ser tão tímido.

Talvez a carta não devesse ter sido entregue tão cedo no santuário.

Talvez o certo fosse esperar.

Talvez ele mesmo entregasse, no futuro, sua carta e mais muitas outras, pessoalmente.

Aluã Rosa
Enviado por Aluã Rosa em 15/11/2014
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