Forjada fundição

Contrasta com as casinhas apinhadas que o rodeiam aquele espaçoso galpão vazio,

fundição que foi, sem nunca ter fundido.

Era o sonho de gente empreendedora da pacata Velha Serrana embarcar no `boom`

siderúrgico que tomou conta das Gerais nos anos cinquenta. Toda cidade vizinha

que se prezasse ia criando seu parque, com a ajuda de políticos, a abundância

do minério - e o rôr de carvoarias que se iam espalhando pelo Estado. Itaúna já

ganhara certa reputação no fabrico de apetrechos de ferro gusa, como caixas de

descarga, tampas de bueiros; Divinópolis, então, já andava rodeada de usinas

fumacentas e até entrara no mundo mais especializado da aciaria; o Pará, cidade

bem mais nova e mais rival, cada chaminé que levantava era mais um quinau que

nos passava...

Era hora da reação. Colocávamo-nos afinal entre os primeiros municípios mineiros

por ordem de fundação - e nada de fundição?

O parque industrial da cidade era pífio, tirante a fábrica de tecidos e uma meia

dúzia de fabriquetas que ia dos estanhados aos calçados, com o desdouro então de

passar pela das vassouras, e de sabão!

Esforços, ao que consta e se conta, foram envidados - e malogrados. Razão?

Deve haver delas um caminhão, que iria, e ria, da falta de força política, passando

pelo passar da hora, à má localização do burgo, espremido entre montanhas e as

imorredouras rivalidades municipais, ainda mais íngremes. E de fundição, sobrou,

vistoso, ocioso, o galpão.

Mas quem muito se riu e se livrou das inconveniências poluidoras da fundição, foi

uma senhora, já bem velhinha, de lá vizinha, que achava tudo uma lorota: e de apodo, que lodo, Dona Xoxota, que ria a rodo.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/11/2014
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