CAXIAS, HERÓI DE TODOS NÓS

Menino, ficava olhando o retrato do Duque de Caxias, Herói Nacional e Patrono do Exército. Na foto, ele estava com uniforme branco, engalanado de medalhas. Caxias já era um homem de meia idade, cabelos grisalhos, corpo roliço e olhos azuis.

Esqueci-me de Caxias por muitos anos. Servi o Exército. Na caserna, soldado raso, reencontro-me com o Herói. Recordo-me até mesmo das comemorações do Dia do Soldado, quando toda a tropa prestou uma bombástica homenagem a Caxias. O comandante, um coronel de bigode e atarracado, falou sobre as altas virtudes de Luis Alves de Lima. Emocionei-me a ponto de ficar arrepiado e convenci-me de que Caxias era uma figura impoluta.

Perdi as contas dos plantões que tirei em frente á sua estátua. Eu estava com o fuzil, na posição de sentido, rendendo-lhe guarda. Na estátua, Caxias está montado num cavalo. Meu respeito por Caxias era tamanho que seria capaz de fuzilar alguém que lhe dirigisse uma ofensa, ali.

Deixei o Exercito. Ou o Exército me deixou ? Esqueci-me novamente de Caxias. A luta pelo pão de cada dia é implacável. De uns tempos para cá, passei a me interessar outra vez por Caxias. Tudo começou quando tomei conhecimento de que o Herói fora, pelos idos de 1840, Presidente da Província do Maranhão e Comandante das Armas. O assunto me apaixonou de tal maneira que passei a ler tudo sobre Caxias que caísse às mãos.

Vim a saber que ele veio para o Maranhão com a missão de combater os rebeldes da Balaiada. E morreu muita gente do lado dos revoltosos. Aproximadamente 8 mil, entre escravos, camponeses e miseráveis.

As forças legais comandadas por Caxias eram militarmente mais preparadas do que as dos balaios. A Corte Real deu-lhe bastante dinheiro, armas e munições para dizimar um dos movimentos revolucionários que ameaçaram a unidade do Império.

Caxias agiu impiedosamente. Colocou na ilegalidade os partidos políticos dos conservadores e dos liberais. Estes chamados de bem-te-vis e aqueles de cabanos.

No interior, os balaios dominavam a situação. A então vila de Caxias, hoje cidade, foi tomada pelos sediciosos. Os chefes insurgentes, como o vaqueiro Raimundo Gomes e Francisco dos Anjos Ferreira (O Balaio), apresentaram uma pauta de reivindicações à Coroa para negociar o fim dos conflitos.

No entanto, prevaleceu a força. Com um ano, Caxias ganhou a guerra. Raimundo Gomes entregou-se ao Comandante das Armas, juntamente com 2.500 rebeldes, sob a promessa de anistia. O Balaio morreu em combate.

Mudei de opinião. Caxias não é mais meu Herói. Meu Herói é o negro Cosmo, que resistiu, ao lado de 3 mil negros aquilombados, à feroz repressão de Caxias. Foi preso, não traiu e enfrentou a força com a coragem dos heróis de sua raça.

samuel filho
Enviado por samuel filho em 11/11/2014
Código do texto: T5031541
Classificação de conteúdo: seguro