512-TERROR NA SALA DE AULA- Estudantes Indômitos

A professora continuava explicando a lição de português. Os alunos aguardavam ansiosos o resultado da brincadeira — de extremo mau gosto, ou melhor, mau cheiro — que estavam fazendo.

Naquela manhã, Dona Gilda acordara muito resfriada. A rigor, não deveria estar dando aula e sim repousando, tratando de sua saúde. Com o nariz obstruído, falava igual ao Zé Fanho. Portanto, não sentia o fedor exalado pelo "peido alemão" que um dos alunos havia colocado queimando, próximo à mesa da professora.

A brincadeira havia sido combinada na semana anterior e Roberto, o líder da turma do mal, se encarregara de encontrar o artefato mal-cheiroso, que acendera logo no início da aula, escondendo-o rente à mesa da mestra, antes que ela chegasse.

Talvez nem todos os leitores saibam do que se trata o peido alemão. É um artefato constituído por um pedaço de barbante de mais ou menos dez centímetros, embebido em acido sulfúrico e seco no enxofre em pó. Torna-se um bastão de cor marrom que, ao ser queimado, exala um mau cheiro insuportável. Servia para brincadeiras em recintos fechados, o qual as pessoas eram forçadas a abandonar às carreiras. Não fazia muito tempo tinha sido colocado um peido alemão na matiné do Cinema Recreio, o que resultara na saída atabalhoada dos assistentes e término da sessão pela metade do filme.

A aula prosseguia e a professora nada sentia daquele terrível fedor. Mas o diretor, em sua sala não muito distante, sentiu o mau cheiro que se espalhava pela escola. Incomodado, saiu à procura da origem do fedor. Alguns outros professores já estavam no corredor, também molestados pelo insuportável mau cheiro.

O diretor localizou a sala. O fedor, ali dentro, era insuportável. Os alunos se movimentavam, inquietos. A professora, entretanto, nada sentia.

Adentrando-se pelo recinto que se transformara numa verdadeira câmara de gás, o diretor disse:

— Por favor, dona Gilda, a senhora está muito resfriada. Vá descansar um pouco. Eu tomo conta da classe.

Assim que ela saiu, o diretor localizou o peido alemão. Em vez de apagá-lo, procurou saber quem era o autor ou autores da brincadeira. Ninguém se manifestou. Ninguém dedurou ninguém.

— Fechem as vidraças. — Ordena o diretor, ao mesmo tempo em que cerra a porta da sala. Senta-se na cadeira da professora e manda que abram o livro e continuem estudando a lição da aula que havia sido interrompida por momentos.

Os alunos já não aguentavam o terrível mau cheiro. Dora tinha vontade de vomitar. Laura sentia dor de cabeça. Raul começou a tossir. Dentro de poucos minutos, todos os estudantes da classe estavam enjoados e passando mal.

Até que Roberto levantou-se e disse em voz alta.

— Professor, eu sou o culpado.

O diretor, sem levantar os olhos do livro que lia, respondeu:

— Tarde piaste. Vamos todos aguardar o sinal de término da classe.

Assim, entre tosses e ânsias, os alunos tiveram de suportar — e respirar — mais meia hora de fedor, que transformou a sala numa verdadeira câmara de horror.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 2 de setembro de 2008.

Conto # 512 da Série 1OOO Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 11/11/2014
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