503-O SANTO TESOURO DA ORDEM DE CRISTO-História & Ficção
A Nau desaparecida – 2ª. Parte
Cap. Anterior: conto # 503- As Tábuas da Lei
A seguir - conto # 510- A Viagem com o Santo Tesouro
Indice deste capitulo :
1- Dom Pedro Álvares Cabral na Ordem de Cristo
2- A Tríplice Missão de Cabral
3 – Cabral examina o Santo Tesouro
1 - Dom Pedro Álvares Cabral na Ordem de Cristo.
As informações sobre nascimento e morte de Pedro Álvares Cabral não têm exatidão e se perdem nas brumas do passado. Teria Nascido em 1467 ou 1468, em Beira Baixa, distrito de Belmonte, em Portugal. Também imprecisos são os relatos de sua formação. Estudou Letras, Ciências, História, Cartografia e Cosmografia. Nada consta, porém, da sua biografia, os conhecimentos que teria de Alquimia e de livros da cultura árabe, herméticos, misteriosos e acessíveis a poucas pessoas da Europa, por aqueles tempos.
O estudo da história despertou sua curiosidade para as Cruzadas, e, em seguida, para os Templários. A procura de conhecimento o colocou em contato direto com os dirigentes da Ordem de Cristo, herdeira dos postulados, das práticas e do grande tesouro dos Templários. Pela sua dedicação ao estudo da nova Ordem e dos antecedentes, Cabral recebeu, antes de completar 30 anos, = em l496 ou 1497 = , o hábito iniciático da Ordem de Cristo.
Tornou-se logo um membro atuante dentro da Ordem, o que contribuiu, mais que sua cultura heterodoxa, para ter sido incumbido, em 1498, da organização de uma grande armada marítima, com destino à Índia, para estabelecer relações comerciais com os marajás das principais cidades portuárias da legendária região, produtora dos cobiçados produtos = pimenta, canela, cravo, entre outros = nos mercados da Europa. Armada que teria também outras finalidades não tão definidas.
Cabral não tinha antecedentes que o recomendassem como chefe da poderosa armada. Nunca havia participado de expedições marítimas e não era dado a aventuras ou exercícios militares. Mas seu conhecimento sobre as mais recentes navegações, além da posse de mapas recentes, feitos por outros navegadores, lhe proporcionava conhecimento teórico para exercer tal comando.
Das justificativas para sua nomeação = se justificativas fossem necessárias =consta o seu “bom saber”. O rei Dom Manuel I, Chefe Supremo da Ordem de Cristo, sabia o que estava fazendo, depositando assim em Cabral a total confiança não só para a missão oficial, como uma outra, secreta e, aos olhos dos participantes da Ordem de Cristo, muito mais importante. .
A nomeação de Cabral, feita em fins de 1498, menos de dois anos após ser nomeado membro da Ordem de Cristo, tem uma significação especial. Grande parte do Santo Tesouro, isto é, do tesouro dos Templários, estava então em poder da Ordem de Cristo, cujo chefe máximo era o rei de Portugal. Havia um temor não divulgado entre todos de que o rei da França, Felipe II, e o rei da Espanha, Carlos V, estariam em conluio para se apossarem do Santo Tesouro. Realmente, no ano de 1500, quando chegavam relatórios das descobertas de Cabral, chegavam também informações de um acordo secreto feito em Granada entre os dois reis = e no qual se manifestava a vontade das realezas de França e Espanha de participar do espólio dos Templários = que estava em Portugal.
Enfim, eis Cabral, aos 32 anos, nomeado Chefe Militar e Diplomático da Segunda Armada da Índia. Naqueles tempos de dificuldades de todas as espécies, em que homens eram tragados pelos oceanos ou morriam em lutas de além-mar, e as mulheres se consumiam nas simples questões do dia-a-dia, Cabral já era considerado um homem de idade avançada.
Embora a sua nomeação tenha sido feita em 1498, inexplicavelmente só em no início de 1500 = precisamente a 15 de fevereiro = é que Dom Manuel I expediu o documento competente. Cabral logo se movimentou para a organização da esquadra num tempo mínimo. Ainda nas duas últimas semanas de fevereiro, teve várias reuniões com Vasco da Gama (o primeiro navegador português a chegar à Índia), de quem recebeu informações detalhadas e mapas precisos, sobre como navegar até o remoto país. Extra-oficialmente, Vasco da Gama e Cabral estudaram a possibilidade de a esquadra se afastar bastante da costa da África na tentativa de encontrar terras mais ao oeste.
Havia indícios de que novas terras se estenderiam para o oeste e ao sul do Equador. Tais informações foram passadas a Cabral, sob juramento de que jamais seriam reveladas a quem quer que fosse. Eram consideradas segredos, mantidos sob sete chaves, pelos titulares da Ordem de Cristo.
2 - A TRIPLICE MISSÃO DE CABRAL
Ao sentar-se defronte à grande mesa sobre a qual se encontram espalhados mapas e diversos papeis com anotações, referentes às viagens feitas pelos antecessores, Dom Pedro Álvares Cabral detém-se em pensamentos contraditórios. Sabe que, mais do que estabelecer contatos comerciais com os marajás da Índia = missão que Vasco da Gama enfrentara e fracassara =, outras missões lhe competiam.
As múltiplas finalidades de sua empreitada o confundem um pouco, dada a sua pouca experiência em viagens ultramarinas. A finalidade oficial e reconhecidamente de interesse da Coroa de Portugal é o efetivo estabelecimento da presença dos portugueses nas terras da Índia. Por isso, sua frota é mais uma expedição armada, composta de 10 naus e três caravelas. Mas deverá se afastar o máximo possível para oeste, a fim de descobrir novas terras, como já havia feito Cristóvão Colombo. Entretanto, a missão mais importante, sob sua visão, como membro de alta categoria da Ordem de Cristo, estava relacionada com o Santo Tesouro dos Templários.
Ele se lembra do encontro que tivera com o navegador Cristóvão Colombo, quando este, de volta de sua expedição, passou por Belém, a fim de consertar a nau Pinta, que estava avariada. Colombo, que era, como ele, Cabral, também da Ordem de Cristo, tinha certeza de que mais ao sul de onde aportara, mais terras poderiam ser encontradas, e, com segurança, uma passagem para oeste, o que possibilitaria a circunavegação do globo terrestre.
3 - Cabral examina O Santo Tesouro
Cabral estava convenientemente alojado no Castelo de Bela Vista, situado no alto de uma colina, de onde a vista podia se estender para o poente, por sobre as construções do cais e o para o porto.
A imensa sala de trabalho de Dom Pedro tinha janelas e portas para uma sacada sobre a qual ele se debruçava em pensamentos, olhando para o mar cujo horizonte representava um mistério ainda insondável para os corajosos exploradores, desbravadores e aventureiros do século XVI, que se iniciava
No mar, abeirando-se do cais e espalhando-se para além, um número sem conta de navios de diversos tipos permaneciam, as velas recolhidas, as flâmulas e bandeiras tremulando sob a brisa suave.
Para o norte, bem próximo do litoral, estavam os navios já escolhidos para a esquadra que Cabral comandaria: 10 naus e três caravelas, algumas novas, outras veteranas de algumas viagens.
Entre os estudos, as visitas e entrevistas com os capitães dos navios, Cabral costumava chegar até à sacada e olhar para o panorama, perscrutando o horizonte e avaliando os navios que o levariam para as terras do outro lado do mundo.
O Castelo da Bela Vista era suntuoso. No pavimento térreo ficavam os magníficos salões onde até pouco tempo grandes festas eram proporcionados pelo Rei. Na parte superior, além da sala de trabalho, estavam os confortáveis quartos, uma vasta biblioteca com centenas de livros = objetos ainda raros na ocasião = e objetos de estudos. No subsolo, uma imensa adega, de teto abobadado, agora estava atulhada por caixas de tamanhos variados, baús de diversos formatos, barricas e sacas de couro, todos fortemente fechados com cadeados ou amarrados com fortes tiras de couro., amontoados ao longo das paredes da galeria.
Desde os primeiros dias do ano, Cabral ocupa o Castelo. Devido à proximidade do porto, bem como o distanciamento da cidade, a situação é ideal para a acomodação da carga misteriosa, e muito conveniente para o carregamento à nau que a transportará.
Dom Pedro desce até os porões. Na obscuridade do recinto, pode ver a carga preciosa que deve transportar em uma das naus, para as novas terras a serem descobertas. Observando o Santo Tesouro, apalpando sacas aleatoriamente ou passando as mãos sobre as preciosas arcas, Cabral se deu conta da grande responsabilidade que pesava sobre seus ombros. Sabia do valor incomensurável daquele tesouro. Era o remanescente tangível do tesouro amealhado pelos Cavaleiros Templários desde as primeiras cruzadas na Terra Santa, e multiplicado muitas vezes sem conta, através dos séculos.
A Ordem dos Templários, à qual pertencia o Santo Tesouro, havia sido extinta oficialmente em 1313, após dois séculos de atividades por toda a Europa. Aos Templários se atribuem grandes avanços na sociedade feudal. As construções das catedrais, reformas no sistema de manejo da terra, em poder dos senhores feudais, e um crescente posicionamento ante o poder papal, eram os grandes sinais da influência dos Templários nos séculos XII, XIII e XIV.
A Ordem dos Templários fora fundada em 1128, após a recuperação da Arca Sagrada e das Tábuas da Lei. Cabral sabia exatamente onde estas relíquias estavam colocadas, no meio de tantos volumes. Cada caixa, saca, barrica ou arca trazia pequenos sinais indeléveis, só compreensíveis aos iniciados e membros da Ordem. Passou a mão com cuidado sobre um baú, no interior do qual sabia estarem depositadas as Tábuas da Lei, as pedras com os Mandamentos esculpidas por Moisés no alto do monte, sob inspiração de Javé.
— As Tábuas da Lei...Os Mandamentos...Depois deste código perfeito, nada mais surgiu na nossa civilização ocidental, como norma de lei. — pensou
Desviando o olhar para além, Cabral lamentou que, apesar de ainda vultoso, aquele tesouro não era nem a décima parte do que fora. A cobiça de reis, papas e aventureiros de todos os tipos, haviam dilapidado o patrimônio dos Templários.
A Ordem dos Templários tinha sido extinta em 1313. O Papa Clemente V, sob pressão do rei da França Felipe O Belo, decretara o fim da Ordem, que, sendo de origem religiosa, estava sujeita à legislação da Igreja Católica. Felipe se apossou dos bens da Ordem, e condenou à morte o último Grão Mestre da Ordem, Jacques de Molar, lançado à fogueira no átrio da Igreja de Notre Dame, em Paris.
Mas houve tempo para que os templários escondessem grande parte do tesouro, e oportunidade para fugirem para a Castela, levando-o através de caminhos secretos entre desfiladeiros perigosos. Em Castela, por mais escondido que estivessem, foram alvos de perseguições, roubos, assassinatos. Nas terras de Portucale, encontraram, enfim, o beneplácito da corte real, e se organizaram novamente, agora sob a denominação de Ordem de Cristo.
Cabral não sabe qual é a parte mais importante de sua missão, da viagem que deverá encetar assim que todos os arranjos estiverem feitos. Obviamente, a esquadra é uma armada que irá estabelecer feitorias na Índia, seja a que preço for. Mas terá de orientar seus navios bem para oeste, e confirmar a existência de terras no hemisfério austral. E o carregamento do Tesouro Sagrado, para um rincão remoto e seguro, longe do alcance da cobiça dos reis da Europa.
Vão ser necessárias muitas noites para levar todo este tesouro para a Flor Del Mar. — Pensava Cabral, preocupado, passando os olhos sobre aquele tesouro de valor incalculável.
A seguir - conto # 510- A Viagem com o Santo Tesouro
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 18 de julho de 2008 –
Conto # 503 da Série Milistórias