Falso falsete?
Tõe da Chica! De pedreiro de mão-cheia converteu-se no mestre-de-obras de reputação e meia. Homem da periferia, foi-se tornando concêntrico à medida que subia. E bem se comprazia do bem que a fama lhe fazia.
Com a agenda repleta, começou a descartar obras menores e a trabalhar somente para uma freguesia seleta de doutores e outros nem tão doutos, mas opulentos senhores.
Ocupadíssimo, de obra em obra ambulava e ordenava na febril gesticulação - senão a rapaziada se deprava, pressentia, com aquela sua cara brava. E pouco falava, pois a sua voz, por circunstância atroz - diziam ar-de-estupor - mantivera-se sempre fina, sujeita à alheia mofina.
Mas ai daquele seu subordinado que ousasse contestar, ou mesmo palpite dar, quando lançado o recado - ou sentença, se assim pensa, o
condenado. O mestre era uma pilha, e nunca estava para brincadeiras.
Nem mesmo naquele dia, em que um jovem servente, cheio de boa vontade, mas sem maldade, quiçá só cabeça quente, ensaiou responder-lhe, num mesmo tom - com a voz bem fininha - que havia,
sim, feito a massa mista na medida exata, ainda que se esquecido de lhe adicionar a parte da cal...
Mas não chegou a concluir sua escusa o pobre servente, ser malvivente, corrido que foi, de enxada em punho pelo furioso Tõe da Chica que o acusava de o estar remedando, caçoando de sua voz.
Até que que veio, salvadora e tempestiva explicação - antes da demissão - pela turma de trabalhava na construção: Num faz isso patrão, ele fala é assim mesmo!