489-DANIEL E A ESTÁTUA DE OURO DE NABUCODONOSOR- Bíblico
Série Daniel na Babilônia
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485 – A fidelidade de Daniel
487 – O Sonho de Nabucodonosor
Inspirado por um sonho impressionante, no qual viu uma estátua altíssima, de cabeça de ouro, tronco e braços de prata, pernas de bronze e pés de ferro misturado com barro, Nabucodonosor mandou erigir um monumento que representasse o império que ele havia forjado.
— Se faço uma estatua totalmente de ouro, não ocorrerá o que aconteceu com aquela do sonho que, por ter os pés de barro e ferro, desabou devido à fragilidade dos pés de barro. — Pensou o imperador.
Chamou seus construtores, aos quais deu a ordem:
— Construam uma estátua toda de ouro, que tenha 60 côvados de altura por 6 de largura. (1) Representará a riqueza e a solidez do meu império. Os pés sejam assentados numa base bem preparada, para não correr o risco de desabar.
— Senhor, não há em todo império ouro suficiente para tal construção. — Responderam os construtores.
— Chamem os cobradores de impostos e façam que seja arrecadado, em todo o império, o ouro necessário.
— E onde deveremos construir o monumento? — Indagaram os construtores.
— Que seja erigida na planície de Dura, de onde será vista por todos os viajantes que cruzarem as rotas de comércio. E todos os habitantes do mundo saberão que o meu império será tão perene quanto a estátua de ouro.
A construção foi iniciada. Os andaimes se elevavam a cada dia e o monumento foi tomando forma. Os construtores consultavam seguidamente o imperador, a fim de que a estátua fosse totalmente fiel ao sonho. E o imperador foi orientando de tal forma que a estátua acabou sendo reprodução de si mesmo.
Durante a construção, o imperador foi se convencendo de que a representação do seu império, que era também a sua representação e, portanto, deveria ser honrada e adorada como um verdadeiro deus.
Quando ficou pronta, Nabucodonosor não escondeu sua satisfação:
— Mas é completamente idêntica à estatua que sonhei!
E cumulou os construtores de valorosos prêmios pela magnífica realização.
. . .
Ao final, estando a estátua completada, polida e incrustada de pedras preciosas, refulgia em todo seu esplendor. Seu brilho era visto a quilômetros de distância.
Nabucodonosor determinou então uma reunião, na ampla área defronte a estátua de ouro, de todos os homens investidos de autoridade no reino, a saber: sátrapas, magistrados, juizes, capitães, grandes senhores, prefeitos e governadores das províncias. E representantes de todos os povos e tribos do grande império.
Estava a multidão de pé, defronte a estátua, quando ouviram a voz do preposto do rei, que bradava, a fim de que todos o escutassem:
— Ouvi todos, dignidades e mandatários, emissários e representantes, convidados do rei Nabucodonosor. Quando for ouvido o som das trombetas, das harpas, cítaras e flautas, todos vós devereis prostrar por terra. E com a face virada para o chão, adorareis a estátua de ouro que é o nosso próprio Imperador.
Após um breve intervalo, prosseguiu:
— Se alguém não a adorar prostrado, será lançado em fornalhas de grande calor, onde se queimarão até morrerem. (2)
Aos primeiros toques dos instrumentos musicais, a multidão prostrou-se em ato de adoração à estátua e ao Rei.
Entretanto, três homens permaneceram de pé, em acintosa desobediência ao determinado pelo rei e correndo o risco de serem condenados à morte terrível nas fornalhas.
. . .
— Vamos, meus amigos. Devemos chegar logo à planície de Dura. Não quero perder a reunião convocada pelo imperador. — Daniel instava com os caravaneiros que o traziam das distantes províncias do leste, onde estivera por mais de seis meses em viagem de inspeção e fiscalização de cidades submetidas pelo rei e sujeitas à sua administração.
As pesadas chuvas enchiam os rios e dificultavam a jornada. Camelos e dromedários, usados para transportar a carga, exauriam-se e tinham de ser substituídos com freqüência.
Não chegou a tempo, como desejava. Daniel era o grande ausente da importante solenidade.
Por isso, não estava ao lado de Ananais, Mizael e Azarias, seus amigos desde a meninice e que agora, como ele, ocupavam importantes postos administrativos no império de Nabucodonosor.
Daniel e seus amigos, ao serem escolhidos por Nabucodonosor quando ainda meninos, para serem educados pelos sábios e mestres da Babilônia, receberam do rei nomes condizentes com sua posição. Assim, Daniel, Ananias, Mizael e Azarias receberam outros nomes: Baltazar, Sidrak, Misak e Abdênago, respectivamente.
Na importante cerimônia de adoração da estátua, enquanto os presentes ainda estavam prostrados por terra em gesto de adoração, chegaram alguns sacerdotes caldeus, com uma denúncia:
— Ó Rei, escutai o que temos a vos dizer. Eis que tendo recomendado que todos devem se prostrar e adorar a estátua de ouro, alguns judeus se recusam a obedece vossas ordens.
Nabucodonosor foi imediatamente tomado por uma ira sem tamanho.
— E quem são esses rebeldes?
— São aqueles que vos constituístes superintendentes de províncias de vosso reino. Chamam-se Sidrak, Misak e Abdênago.
— Pois prendam e tragam até mim estes homens. Sendo meus administradores, devem eles dar o exemplo.
Os três foram levados à presença do rei.
— É verdade que não estão honrando meus deuses e nem adorando a estátua de ouro, conforme foi determinado?
— Sim — respondeu Sidrak, falando pelos três — Temos a palavra do rei, dada anteriormente, de que estávamos livres para honrar Javé, o único e verdadeiro Deus.
— Pois vou dar-lhes uma nova oportunidade. Ao ouvirem um novo toque dos instrumentos, deverão se prostrar e adorar a estátua de ouro. Caso contrário, serão lançados nos fornos.
— Nem é preciso dar novo toque de seus instrumentos. Adoramos a Javé e a Ele somente prestamos honras de um Deus vivo. Jamais renegaremos nossa fé.
Irado, Nabucodonosor levantou-se do trono e, de pé, erguendo a mão contra os três, declarou:
— Pois morrerão mergulhados nas chamas das fornalhas reais. Vamos ver se o deus que adoram os salvarão.
E ao capitão da guarda, ordenou:
— Faça com que a fornalha onde serão lançados seja sete vezes mais quente.
Os soldados aprisionaram com cadeias de ferro os três fieis a Judá e os conduziram na direção das fornalhas de cozer tijolos, cerâmicas e ladrilhos. Nelas, o fogo jamais se apagava, mantido pelo contínuo lançamento de pez e alcatrão, vindos das minas do norte.
A caminho da esplendorosa Babilônia, Daniel cruzou com a estranha caravana de soldados e prisioneiros. Não sabia do acontecido aos seus amigos e talvez por isso não os reconheceu, destituídos de toda a dignidade, presos por pés e mãos, caminhando com dificuldade pela estrada de pó.
Ao ser recebido pelo rei, no palácio, Daniel ficou sabendo da condenação dos três amigos.
— Ó, Rei da Babilônia e de todos os povos conhecidos. Não estais sendo fiel à vossa promessa, quando interpretei o sonho de vossa majestade. Para nós, povo de Judá, foi assegurado a liberdade de adorar nosso Deus vivo e só a Êle honrarmos. Peço-vos que suspenda essa condenação.
— Não devo nem desejo cancelar o castigo dos desobedientes. Foram levados para as fornalhas no mesmo dia em que desobedeceram minhas ordens, e já se passaram três dias. Seus amigos já estão, com certeza, reduzidos a cinzas.
Daniel foi tomado de grande tristeza. Ainda assim, pediu a Nabucodonosor:
— Seja-me concedido pelo menos visitar o local onde pereceram meus diletos irmãos de fé.
Um capitão foi determinado para conduzir Daniel à fornalha onde tinham sido encerrados para morrerem sob o forte calor das chamas, intensificado em sete vezes, como determinara o rei.
Ao se aproximarem da imensa fornalha, Daniel sentiu o calor intenso. Mas qual não foi sua surpresa ao olhar para dentro do imenso recinto e ver os três amigos sentados sobre pilhas de tijolos, conversando entre si e sem nenhum sinal de queimaduras.
— Como é isto? — Gritou de longe, pois ele mesmo sentia o calor mortal do recinto. — Vocês estão vivos? É um milagre de Javé ou estarei delirando?
— Honras e louvores sejam dados a Javé! — Responderam os três. — Acredite nos seus olhos e não duvide do poder de nosso Deus Vivo! Como pode ver, dileto amigo, não estamos sentindo o calor nem estamos sendo cozidos, como era desejo de Nabucodonosor.
— Voltarei ao palácio e darei ciência deste milagre ao rei e prometo trazer o decreto da libertação de vocês. — Daniel saiu imediatamente para relatar o milagre ao rei e ao povo de Judá, estremecido com a condenação dos três lideres.
. . .
Nabucodonosor não acreditou nas palavras de Daniel, mas o testemunho do capitão que o acompanhara às fornalhas foi decisivo.
— Quero eu mesmo testemunhar este fato. E se for um verdadeiro milagre de seu deus, os condenados serão perdoados e liberados.
Quando chegou o rei e sua comitiva, juntamente com Daniel, os três condenados entoavam hinos de louvor a Javé, incólumes no centro da fornalha. Ajoelhados, agradeciam ao Senhor, sem sentirem o calor insuportável. Era como se estivessem no templo ou em qualquer outro lugar de refrigério e de paz.
— Vede, Imperador! Meus amigos não só estão vivos como nada sentem dentro deste local de calor insuportável. É o poder de Javé que se manifesta.
No primeiro momento, Nabucodonosor ficou assustado e cheio de temor.
— São representações dos condenados que voltam do além para me perturbar. — Disse. — Não acredito que sejam Sidrak, Misak e Abdênago.
— Vós vos enganais, Rei de toda a Babilônia. — falou Daniel. — São os meus amigos, que condenastes por não adorarem a estátua de ouro, e que são mantidos sãos e salvos de toda a injustiça com que os contemplastes.
O rei mandou que os três saíssem da fornalha e viessem à sua presença. Ao se aproximarem, Nabucodonosor os apalpou, passou as mãos pelas cabeças e ombros dos três e disse:
— Grande é o poder de vosso deus, Javé. Reconheço seu poder e reafirmo minha promessa: todos os judeus podem permanecer fiéis a este poderoso deus. Seus amigos estão livres de toda condenação e continuarão sendo meus ministros.
Daniel e seus amigos mantiveram perante Nabucodonosor a confiança e o povo de Judá, exilado na Babilônia, continuou tendo liberdade de freqüentar o Templo e adorar Javé, o Único e Verdadeiro Deus Vivo.
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Notas
(1) um côvado media 3 palmos, correspondente a 66 centímetros. A estátua encomendada teria aproximadamente 40 metros de altura por 4 de largura.
(2) Existiam na Babilônia muitas fornalhas para queima de tijolos. Os tijolos foram “inventados” na Mesopotâmia, usados para a construção da Torre de Babel e era o material comum nas construções da Babilônia. Daí o grande número de fornalhas.
ANTÕNIO GOBBO
Belo Horizonte, 11 de abril de 2008.
Conto # 489 da Série Milistórias