Nós e o morango.

--- Quem já comeu morango?

Eu --- disse a maioria que se encontrava na plateia, como se já estivessem preparados para a ‘deixa’ que o apresentador lhes iria dar logo após, ele sempre fazia isto, fazia as perguntas mais singelas possíveis e depois dava o troco para aqueles que acharam seu questionário idiota, um pensamento admirável era extraído de tal pergunta ‘ sem nexo’ e passado tanto aos espectadores, quanto, aos telespectadores.

--- Eu também já comi morango, morango persa, morango brasileiro, disse o apresentador sarcasticamente, já apontando para a moça que houvera gritado o ‘ eu’ com maior veemência anteriormente.

--- Você moça, chamou minha atenção, porque gritou de uma forma chamativa a sua experiência com o morango, disse ele, tratando a fruta, como se fosse de fato uma pessoa e continuou ---- me diga, qual é o sabor do morango?

----- Eu sei que sabor ou gosto é algo que não se discute até porque não é uma exatidão, e quem o disse foi exatamente o meu querido filosofo empirista Locke, separando algumas de nossas percepções em primárias e secundárias, onde as primárias se referem a comprimento, forma, quantidade e movimento das coisas, afirmando que essas características que os sentidos nos permitem descrever, dessas podemos ter certeza, até porque o quadrado é quadrado pra qualquer um, disse ele com um tom impaciente prosseguindo --- Já as secundárias são meio que duvidosas, elas são, cor, aroma, gosto, som, essas propriedades não nos passa total confiança, já que, o que é doce pra mim pode ser muito doce para você, sem falar nos daltônicos, falou partindo para a mesma pergunta novamente --- Pois então dona moça, deixe essa teoria filosófica de lado e nos diga, qual é o gosto do morango? --- Nos explique, finalizou o apresentador.

---- Bom, o morango é minha fruta preferida

---- Deu pra perceber, interrompeu ele, a garota, provocando risos nela e nas outras pessoa ao redor.

---- Eu o acho doce, e tem um gosto realmente inconfundível e por ser assim tão gostoso, se tornou uma das frutas de maior foco nas indústrias de alimentos, afirmou a fã da fruta, dando lugar para o apresentador prosseguir com suas premissas.

--- É, você finalizou sua resposta com um pressuposto que eu iria usar, depois da mesma, o morango atualmente está em todos os lugares, é sorvete de morango, chocolate ao morango, cobertura de morango, bolo de morango, e realmente é uma fruta doce, mas sinceramente, quando eu como um morango e posteriormente degusto um, iogurte de morango por exemplo, não percebo semelhança alguma, entre o real e o industrializado, o que eu quero revelar agora, nacionalmente é que deturparam a imagem ou melhor o gosto do morango, que apesar de ser doce, não se parece nenhum pouco com o Danone de morango ou o sorvete de morango, disse o apresentador como se tivesse acabado de introduzir nos registros de descobertas humanas a mais importante descoberta.

---- O chocolate nem pode se defender, é chocolate e acabou. Não nasce do chão, vem do cacau, que passa por um reforma total até se tornar o que podemos chamar de chocolate, mas, o morango, pobre coitado, nasce da terra, tem seu próprio gosto, só é empacotado e e vive sendo reformado por ai, sendo substituído por uns tais de aromas e açucares artificias, que tentam transpassar o hipotético gosto dele, disse ele recebendo aprovações através dos movimentos de concordância que algumas pessoas da plateia faziam com a cabeça.

---- E não é assim com algumas pessoas? Elas nos conhecem, e podemos chamar esse ‘ conhecer ‘ de provar. Provam nossas opiniões, nossas conversas, nossos erros, qualidades, e até nossos medos, provam nossas criancices, nossas palavras fora de hora, impaciências, qualidades, cada coisa com seu gosto, nossa!! Provam coisas demais, coisas que nos formam, nos provam, afirmou rindo e continuando a prosa como se tivesse enfurecido gritou

---- Algumas são egoístas demais, e gostam de falsificar nossos sabores em seus próprios conhecimentos, em suas próprias conclusões, fazem o que a indústria fizera com o morango, dão um gosto totalmente divergente para nós, nos afastam de si, deixando prevalecer um gosto falso de nós, morangos!

Mirela Lourdes
Enviado por Mirela Lourdes em 01/11/2014
Reeditado em 14/11/2014
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