AQUELLOS OJOS VERDES (minha história de elevador)

Chovia e fazia frio naquela tarde de outono em Buenos Aires. No taxi amarelo e preto, vidros embaçados, um tango desesperado no radio, lamentava não ter desmarcado a consulta. Mal sabia eu que iria viver um momento erótico que jamais iria esquecer.

Paguei e desci na chuva fria. Sou teimoso, prefiro tomar toda a chuva do mundo a usar um guarda-chuva. Na porta do prédio, procurei naquele emaranhado de letras e números o apartamento 4F e timbrei. Depois de alguns úmidos segundos a pesada porta de madeira e detalhes em bronze do prédio se abriu. Nesse instante ela passou por mim. Não pediu licença, não me olhou. Só senti seu braço tocar no meu quase me empurrando e vi seus cabelos e ombros molhados pela chuva insistente.

Reencontrei-a no hall do elevador e reparei que minha primeira impressão era certa. Atraente, corpo recheado de curvas, decote provocante impossível de tirar os olhos. Tentava se secar com um lencinho e sorria sem jeito. O zelador passou e resmungou algo como “este ascensor está loco hoy” completando que o elevador estava parando em todos os andares por conta própria.

Abri a porta pantográfica e dei passagem para ela enquanto reparava em sua nuca. Ela claramente percebeu meu olhar. Apenas sorriu e apertou o botão do quinto andar. Fechei a porta e o elevador começou lentamente a subir. Estávamos em uma gaiola, em um prédio residencial, sozinhos, molhados de chuva, mas antes de chegarmos ao primeiro andar já éramos os dois pura eletricidade. Eu já não conseguia parar de mirá-la e ela, mesmo desviando os olhos vez por outra, me fitava e respirava ofegante. Sentia meu corpo reagir àquela química louca e sem perceber nos aproximávamos mais e mais.

O elevador parou no segundo andar e alguns segundos depois seguiu em sua lenta marcha. Estávamos muito próximos um do outro naquele ascensor dos anos 30. Podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro de seu perfume; podia ver as gotas de chuva escorrendo por seu ombro. Olhava fascinado o decote e imaginava a suavidade daquele toque. Ela olhava minhas mãos, olhar pedinte de ser tocada, ao mesmo tempo olhar suplicante de me tocar.

O barulho do elevador parando no terceiro andar me trouxe de volta. Olhei para baixo encabulado; olhei de volta e ela continuava me fitando, talvez também achando tudo muito louco, talvez gostando da minha falta de jeito, talvez percebendo a reação de meu corpo. Eu já não queria saber da hora, da médica, do frio, da chuva. Só queria sentir minha mão naqueles seios, minha boca naqueles lábios, minha língua nas gotas de chuva que ainda escorriam em seu rosto. E de alguma forma, mesmo sem o contato físico, podia sentia tudo isso. E ela também parecia sentir. Sua pele se arrepiava quanto mais eu a devorava com meus olhos azuis. E eu me entregava enquanto ela me comia com aquellos ojos verdes.

Mas nada disso aconteceu. Ficamos ali fazendo amor sem nos tocar, nos beijando sem nos beijar, sabendo que aqueles minutos seriam um gozo eterno.

Abri a porta e sai. Virei-me e fiquei olhando pela grade da porta ela continuar a subir. Nos olhamos mais uma vez e ela sumiu. Ouvi a porta do elevador sendo empurrada, ouvi seu salto no piso de madeira, ouvi o barulho da chave abrindo a porta. Achei não ter ouvido a porta se fechar. Meu impulso foi subir correndo as escadas. Mas sentei no degrau e ali fiquei um bom tempo de olhos fechados sentindo o cheiro daquela pele, o gosto daquele corpo, o verde daqueles olhos. Mais sensual impossível. Mais erótico, poucas vezes antes e depois.

lineu de paula
Enviado por lineu de paula em 13/09/2005
Reeditado em 14/09/2005
Código do texto: T50189