O cara que era mediano em tudo
Tinha um cara que era mediano em tudo. Ele se orgulhava disso. Contava a todos como era capaz de ficar na faixa da mediocridade em todos os campos da vida. Da época de escola à de trabalho. Numa madrugada de domingo, pensou sobre sua vida. Não havia muito o que pensar. Não havia conquistas nem decepções. Qualidades e defeitos se confundiam. Poucas vitórias e derrotas, muitos empates. Essa era sua única vocação, ser mediano.
Pensou:
"Se sou mediano em tudo... então sou bom em ser mediano?."
Ser mediano é fácil. Deixar de ser, não muito. Aquilo tirou dele sua unicidade. Encostou a cabeça no seu travesseiro mediano. Naquele dia, mais macio que o costume.
Sonhou:
"Se sou bom em ser mediano... não sou mediano em tudo. Sou ruim em ser mediano"
Acordou tentando não pensar muito no sonho. Preparou o seu mediano café. Estava mais amargo que o normal.
A vida seguiu menos mediana por um tempo:
"Se ser bom em ser mediano me torna ruim em ser mediano...então sou bom e ruim em ser mediano?"
Foi uma época difícil. A vida é reconfortante quando só se espera a medianidade dela. Por que tirar isso dele? Caminhava na rua.
Uma maça caiu:
"Se sou bom e ruim em ser mediano...sou mediano em ser mediano!"
A vida nunca foi tão mediana quanto naquele momento.