451-O PRIMEIRO COMBATE-Guerra do Iraque

Para o jovem Matthew Maguire, estudante da Langdon High Scholl, em Creekdry, Montana, a guerra no Iraque estava tão distante quanto a Lua.

Alegre, comunicativo, esbanjava vitalidade e topava qualquer parada. Bom companheiro para o que desse e viesse. Entretanto, havia algo que faltava ao jovem Matt: a ambição, a garra, vontade de subir na vida.

— Ainda não sei o que farei quando terminar a High School. — Desculpava-se com a mãe, já que o pai pouca atenção dava à família. — Decidirei quanto terminar o curso.

Três meses após concluir o curso de técnico em informática, completou dezessete anos. E por absoluta inércia mental, ou por querer dar uma mudança radical no marasmo de sua existência, alistou-se no Exército.

— Sabe que você poderá ir direto para as areias do deserto do Iraque? — A pergunta do pai encerrava uma certeza da qual Matt não comungava.

— Me disseram que esta guerra termina antes que me metam num avião para combater. — A informação otimista passada pelos recrutadores fora aceita pelo jovem sem titubear.

Era o mês de junho de 2007. Se Matt tivesse tido o cuidado de se informar, veria que a realidade era bem outra.

Os treinamentos Camp Damp eram realizados sem entusiasmo, quer por parte dos oficiais quer por parte dos recrutas. Depois de nove semanas de treinamento básico em táticas de infantaria, Matt foi enviado para Forte Beau, na Virgínia, onde, informaram, receberia mais treinamento.

Ao chegar na Virgínia, entretanto, foi surpreendido pela imediata integração na 155a. Brigada de Infantaria e mandado, via aérea, para o Iraque. O vôo durou 26 horas, com escala na base americana de Dusseldorf, na Alemanha e os soldados chegaram ao destino desejosos de, pelo menos, um dia de descanso.

Larry Stowe, também da pequena comunidade de Barkdry, era um jovem de dezenove anos, aguardava julgamento por agressão contra o porteiro de uma boate local. Não tinha sido bom estudante, não completara sequer a High Scholl e vivia de expedientes. Envolvera-se com uma gangue de traficantes e se deu mal quando, ao tentar entrar no L.S.Night Club, fora barrado pelo porteiro. Da discussão à agressão foi coisa de minutos. Preso, foi liberado pelo juiz, para esperar o julgamento.

Até alguns anos atrás, o exército norte-americano recusaria seu alistamento. Após a invasão do Iraque, porém, jovens acusados de pequenos delitos passaram a ser aceitos, ficando a situação com a justiça protelada até a baixa do recrutado. Isto era muito conveniente, pois, ao voltar, o jovem teria a seu favor o serviço prestado ao exército e, por conseguinte, à Pátria.

Larry se alistou e passou pelo mesmo treinamento de Matt. Os dois se conheceram então e estavam no mesmo avião que os levaria à frente de batalha.

Ao chegarem a Bagdá, a necessidade urgente de preencher os claros nas guarnições, fez com que Larry e Matt fossem direto do avião do qual desembarcaram para o quartel da 3a. Divisão de Infantaria, no centro de Ramadá. Sem qualquer tempo para descanso, foram designados para o grupo de sentinelas do quartel

Parecia ser uma tarefa sem maior importância. Era cerca de duas horas da tarde e os soldados estavam exaustos. O sol escaldante forçava-os a se abrigarem à sombra das paredes. A poeira onipresente descia sobre a cidade como uma névoa permanente. O burburinho da cidade era intercalado pelo ecoar dos sons de bombas e tiros, num cenário de uma infindável guerra urbana.

O quartel das forças americanas em Ramadá já tinha sido alvo de ataques por parte dos guerrilheiros sunitas. Entretanto, nenhum fora tão feroz quanto o realizado na tarde em que Larry e Matt estavam de plantão, a primeira missão de ambos na infame guerra.

Guerrilheiros sunitas, emboscados em edifícios vizinhos, começaram a atirar diretamente contra o prédio do quartel. Bombas de alto poder de destruição, balas de fuzis de precisão e granadas atingiam a antiga construção, transformada em quartel.

— Onde será que esses filhos duma cadela conseguem tanta arma e munição? — Matt estava assustado com a intensidade do ataque.

— Vamos subir até o teto — gritou Larry. — De lá poderemos ter uma visão melhor.

Os dois pularam quase que ao mesmo tempo para a laje superior e, ao abrigo de uma parede de concreto de noventa centímetros, ficaram em boa posição para observar o inimigo.

— Lá naquela janela tem um atirador. Vou acabar com o desgraçado. — Matt sentia o sangue ferver nas têmporas, a boca seca e a vontade de matar.

Entre a fumaça, o barulho e a confusão que se estabelecera nos arredores do quartel, nem viram quando um projétil disparado pelo inimigo, atingiu em cheio o paredão atrás do qual estavam abrigados.

O poderoso artefato nuclear não só atravessou o paredão, destruindo-o, reduzindo a pó a camada de concreto, como atingiu os dois soldados. Mathew tombou morto. Larry também caiu com o impacto, sem perder a consciência. A face queimada pelo calor e uma dor lancinante nos olhos. Apenas podia escutar os tiros, nada mais via. Estava completamente cego.

Foi a primeira participação dos dois jovens num confronto real com o inimigo, uma ação que começara há pouco mais de duas horas.

Estavam no Iraque há apenas quatorze horas.

ANTÔNIO GOBBO

Belo Horizonte, 18 de setembro de 2007

Conto # 451 da Série Milistórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 21/10/2014
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