O QUIROMANTE EVANGÉLICO
Se lhe chamarem de Roberto ele não atenderá. Seu nome é Altair.
Orgulhava-se de ser possuidor do dom de ler mãos, herdado de sua mãe, que por sua vez, havia herdado da sua avó, que era catimbozeira.
Cobrava um valor módico pelas suas consultas, garantindo a satisfação de seus préstimos ocultos, ou a devolução do dinheiro dos seus consulentes.
Tinha um problema de infância chamado síndrome de Tourette, que consiste em uma compulsão irresistível de chamar palavrões. Por esse motivo não conseguia se estabelecer em nenhum emprego. Só lhe restava a quiromancia, herdado da sua avó materna, como fonte de renda.
Um dia Altair se convenceu ou foi convencido a se tornar crente- tornou-se um adepto fervoroso do Calvinismo.
Queria ficar curado do seu mal, que os pastores insistiam em afirmar que se tratava de um "encosto".
Frequentava assiduamente os cultos, onde entre um brado de "aletuia" e outro, soltava seus palavrões involuntariamente.
Por não conseguirem curar Altair, ele não efetivou-se como membro de nenhuma igreja, nem Calvinista nem Luterana. Mas ele não se deu por vencido. Adquiriu um certo conhecimento bíblico de tanto ter ouvido os sermões acalorados dos púlpitos reformistas.
Só repetia o que decorara nos cultos, afinal era quase analfabeto.
Tornou-se um crente "freelancer".
Continuou o seu ofício de quiromante, agora com um adicional: lia a mão dos consultantes e dava conselhos baseados nos versículos que decorou(e outros que inventou), e é claro, permeado por palavrões cabeludos.