HAY INDIOS...
O engenheiro Marques estava na Venezuela havia dois dias. Desembarcara no Aeroporto de Maiquetía, que fica no litoral, e fora num carro do governo até Caracas.
Lá estava para fazer um estudo de viabilidade técnica para instalação de aparelhos de telecomunicações, pois a empresa para a qual trabalhava no Brasil, havia ganho uma concorrência para esse fim. Seu destino final seria uma região remota na Amazônia Venezuelana.
Ao chegar a Caracas, chamou-lhe a atenção a grande quantidade de favelas, que julgou serem mais feias que as do Rio de Janeiro. De fato,
Caracas fica num vale, rodeado de montanhas e nestas as casinhas estão
encarapitadas. De qualquer ponto da capital é possível vê-las.
Passou mais uma noite no hotel e na manhã seguinte, bem cedo, o motorista, no mesmo carro do governo, veio buscá-lo para a viagem até Puerto Ayacucho, onde desempenharia seu trabalho.
A viagem foi longa, quente e cansativa. Pernoitaram em San Fernando de Apure, que fica a meio caminho e na manhã seguinte prosseguiram em direção ao destino final. Nesse trecho da viagem, Marques viu quase que exclusivamente floresta. A viagem tornou-se mais quente e desconfortável.
Puerto Ayacucho era uma cidadezinha madorrenta, quente e cheia de mosquitos.
Marques, um tanto ingênuo a respeito desses lugares, procurou o único hotel da cidade. Nem passou da recepção. De lá mesmo viu a sujeira e o aparente desconforto.
Como nessa região costuma-se dormir em redes, ele teve a brilhante idéia de comprar uma que veio acompanhada de mosquiteiro.
Dilema crucial, onde amarrá-la?
Foi até o pequeno edifício onde seriam instalados os equipamentos e viu que poderia se arranjar amarrando a rede entre duas colunas da sala principal, pois ainda estava tudo vazio. Como havia banheiro, ele se sentiu confortável. Certamente, mais confortável que no hotel. Alí, pelo menos, o prédio era novo e o ambiente limpo.
Ficou cerca de um mês no local, fazendo seu trabalho.Enquanto isso, ia tomando conhecimento da forma de vida da população, a língua que falavam, da qual entendia pouco -- eram na sua maioria de orígem indígena.
Chegado o dia da volta ao Brasil, ficou contente. Já estava cansado daquela vida sem atrativos, sem televisão, poucas pessoas com quem conversar, o calor intenso e a saudade da família.
Que alívio ao chegar a São Paulo!
Quando lhe perguntei o que poderia me contar sobre a Venezuela e, principalmente, sobre Puerto Ayacucho, ele me saiu com esta:
"Puerto Ayacucho de Todos Los Santos, hay índios por todos los lados y mierda por todos los cantos".
Não foi preciso perguntar mais nada.
O engenheiro Marques estava na Venezuela havia dois dias. Desembarcara no Aeroporto de Maiquetía, que fica no litoral, e fora num carro do governo até Caracas.
Lá estava para fazer um estudo de viabilidade técnica para instalação de aparelhos de telecomunicações, pois a empresa para a qual trabalhava no Brasil, havia ganho uma concorrência para esse fim. Seu destino final seria uma região remota na Amazônia Venezuelana.
Ao chegar a Caracas, chamou-lhe a atenção a grande quantidade de favelas, que julgou serem mais feias que as do Rio de Janeiro. De fato,
Caracas fica num vale, rodeado de montanhas e nestas as casinhas estão
encarapitadas. De qualquer ponto da capital é possível vê-las.
Passou mais uma noite no hotel e na manhã seguinte, bem cedo, o motorista, no mesmo carro do governo, veio buscá-lo para a viagem até Puerto Ayacucho, onde desempenharia seu trabalho.
A viagem foi longa, quente e cansativa. Pernoitaram em San Fernando de Apure, que fica a meio caminho e na manhã seguinte prosseguiram em direção ao destino final. Nesse trecho da viagem, Marques viu quase que exclusivamente floresta. A viagem tornou-se mais quente e desconfortável.
Puerto Ayacucho era uma cidadezinha madorrenta, quente e cheia de mosquitos.
Marques, um tanto ingênuo a respeito desses lugares, procurou o único hotel da cidade. Nem passou da recepção. De lá mesmo viu a sujeira e o aparente desconforto.
Como nessa região costuma-se dormir em redes, ele teve a brilhante idéia de comprar uma que veio acompanhada de mosquiteiro.
Dilema crucial, onde amarrá-la?
Foi até o pequeno edifício onde seriam instalados os equipamentos e viu que poderia se arranjar amarrando a rede entre duas colunas da sala principal, pois ainda estava tudo vazio. Como havia banheiro, ele se sentiu confortável. Certamente, mais confortável que no hotel. Alí, pelo menos, o prédio era novo e o ambiente limpo.
Ficou cerca de um mês no local, fazendo seu trabalho.Enquanto isso, ia tomando conhecimento da forma de vida da população, a língua que falavam, da qual entendia pouco -- eram na sua maioria de orígem indígena.
Chegado o dia da volta ao Brasil, ficou contente. Já estava cansado daquela vida sem atrativos, sem televisão, poucas pessoas com quem conversar, o calor intenso e a saudade da família.
Que alívio ao chegar a São Paulo!
Quando lhe perguntei o que poderia me contar sobre a Venezuela e, principalmente, sobre Puerto Ayacucho, ele me saiu com esta:
"Puerto Ayacucho de Todos Los Santos, hay índios por todos los lados y mierda por todos los cantos".
Não foi preciso perguntar mais nada.