raridade nos dias de hoje 1

Fabiano já não aguentava mais ficar só naqueles beijos no portão. Três anos e nada, nem uma pegada mais forte. uma passada de mão, nada. Somente abraços e uns parcos beijos na boca. Sem que demonstrasse muita lascívia

O pai, claro, estava sempre à espreita e a mãe não saia da janela. É necessário vigiar. Dizia dona carmelita que agia como um pastor diante da ovelha em perigo. O fato é que depois de três anos, beijos e abraços não alimenta a alma de um sujeito fogoso como Fabiano , acostumado desde cedo a ficar nas casas da rua do fogo. O próprio pai dele, seu Antunes, levava o rapaz para o esbórnia. “O homem tem que experimentar do fruto proibido desde cedo. Senão fica mole e toda mulher controla”. Foi com esse ensinamento que Fabiano atravessou a adolescência.

Telma era do tipo que não queria decepcionar o pai. “O sonho dele é me levar ao altar, Fabiano . Imagina a vergonha que sentirei de saber que estarei na igreja, de frente ao padre e já violada”. Ela sempre dizia isso. De alguma forma aquilo tinha um tremendo sentido. Naquelas bandas as pessoas ainda vivia num código antigo. E todos sabiam perfeitamente que o legislador daquele código era o mais severo possível: a boca do povo. Ainda mais quando se tratava de família de nome na cidade. Se fosse uma relenta qualquer, mas era a filha de Basílio nogueira. O homem mais rico da cidade.

Fabiano resolvia seus problemas com o corpo em sua própria casa. Quando não estava em frente a casa de Telma, estava se esfregando com o Dolores, uma mulatinha sensual, a empregada de sua casa. Vez ou outra trancava a morena no quarto dos fundos e lhe arrancava os atrasos. Claro que tudo no mais absoluto segredo. Dolores cada vez que ia naqueles fundos recebia um tanto que era quase a metade do ordenado mensal. Ela já contava com essas escapadas pra fechar o salário do mês.

Fato que nunca passava pela cabeça de Telma que o tinha como alguém de confiança, um homem diferente desses raros que podem confiar. E o mesmo pensamento era presente na cabeça de Fabiano . Telma era uma moça casta, decente, moça de família, raridade nos dias de hoje.

Mas havia um fato que nunca passou pela cabela de Fabiano . Não que ele fosse ingênuo. Não era, mas ainda lhe faltava muito a compreender sobre as mulheres. Que nem tudo que é dito pelas meninas pode escrever com ferro e fogo. Que entre o que a pessoa fala e o que ela pode ser, existe diferenças impoderáveis.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 14/10/2014
Reeditado em 14/10/2014
Código do texto: T4998946
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