VISITA DE NAMORADO
VISITA DE NAMORADO
Antigamente a vida não era nem um pouco fácil, a simplicidade dos costumes as vezes era bastante exagerada, mas os costumes eram aqueles e para quem não conhecia nada diferente estava bem e muito bom;
nas vilas e cidades as mudanças de hábitos começaram a chegar bem devagar, mas nos sítios e fazendas as coisas continuavam como sempre foram e todos achavam certo.
No Sitio dos Coqueiros a vida era do jeito que se vivia anos e anos atrás, o mesmo linguajar rude com os erres bem mastigados, roupas de algodão, botinas de atanado, os moveis muito simples, as camas com barulhentos colchões recheados de palha de milho rasgada e a comida preparada em fogão de lenha, até ai tudo bem, mas como sanitários não havia, todos faziam suas necessidades atrás de uma touceira de bananeira.
Seu Antonio o dono do sítio vivia e pensava de maneira antiga e achava que era o jeito certo de viver sempre dizia: o que era bão para Hô pai e Há mãe é bão pra mim e tamos conversado, mas Seu Antonio tinha somente filhas e eram cinco, enquanto foram pequenas tudo bem, mas elas cresceram e se tornaram moças bonitas e trabalhadeiras e logo começaram a namorar e ai complicou.
Chiquinha a mais nova, foi assistir missa na Vila da Baixada com sua familia e lá arranjou um namorado, moço bonito e filho de fazendeiro, todos se agradaram do rapaz e algum tempo depois chegou um recado para Chiquinha, avisabdo que o moço Silvano ia dentro de uma semana fazer uma visita, foi um susto, porque comida boa tinha e cama limpa também, mas sanitário não tinha.
Seu Antonio disse: vamo furar um buraco, colocar uma parede de taipa e um caixote pra sentar e fica resolvido, se bem falou, melhor o fez e com um dia de serviço puxado o tal buraco ficou pronto, mas na manhã seguinte descobriram que a vaca Rosada tinha caído no buraco e para retirar o assustado bovino, abriram uma vala enorme e estragaram o trabalhoso buraco e o jeito foi furar outro.
Quando o novo buraco ficou pronto, trataram de fazer as paredes de taipa, colocaram uma porta feita de bambus amarrados com arame, um assoalho de troncos, colocaram uma caixote com uma abertura e estava pronto o sanitário; Sá Joana a dona da casa se esmerou nos doces, quitandas e matou e preparou frangos, um leitão e todas as variedades deliciosas da cozinha mineira e suspirou aliviada.
Estava tudo pronto, só faltava o namorado fazendeiro chegar e os dias passaram e nada da esperada visita aparecer e de repente alguém vindo da vila trouxe a noticia, o moço bonito estava noivo da filha de outro fazendeiro; Chiquinha ficou triste por alguns dias, mas logo apareceu um novo namorado que nao era fazendeiro, mas também era bonito e ela se alegrou novamente.
Seu Antonio não gostou nada da historia, mas se saiu bem com sua filosofia rural, dizendo: é o que digo, azeite e água nun mistura, rico nun casa com pobre, mas faiz mal não, pelo menos nois vai comer bem por uns dias e agora nois tem um lugar fechado pra faze as nossas coisas no particular; noivo vai, noivo vem e tudo continuou nos costumes e Seu Antonio conseguiu casar todas as filhas.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil