CADEIA VELHA
CADEIA VELHA
Na Vila de São João Profeta, as leis não eram muito respeitadas lá pelos anos vinte e as brigas eram uma constante, tudo era motivo de discórdias e se as vezes as brigas eram resolvidas com alguns tapas e chutes, a comunidade ficava feliz, porque o mais comum eram as facas e armas de fogo entrarem em ação e no final o jeito era contar os mortos e feridos.
O mal afamado vilarejo era evitado pelos demais moradores da região, porque se aquele povo brigava uns com os outros, brigavam mais ainda com os visitantes que apareciam por lá; durante muitos anos essa situação continuou, parecia que o Santo Padroeiro andava distraído, porque nem reza forte resolvia a valentia daquele povo, mas tudo tem um começo e tem também um fim.
O lugar tinha uma cadeia , mas não tinha delegado e nem policia, porque ninguém se habilitava a enfrentar aquele povo irado; a cadeia fora construída muitos anos atrás por um chefe político que queria povo, mas desistiu e o prédio virou um elefante branco abandonado, o que era uma pena, porque era um prédio de dois andares.
Na parte de cima ficava um escritório e um cômodo grande para acomodar a guarda e no térreo ficavam as celas, mas nunca foi usada e lá ficou inútil por muitos anos; por causa de uma grande briga em uma eleição, onde varias pessoas foram assassinadas e muitas outras feridas, o governo resolveu dar um basta naquela situação.
De repente a cadeia velha foi aberta e uma faxina foi feita e o povo quis saber o motivo daquela novidade e foi informado que estavam chegando soldados para impor a ordem na vila, mas ninguém acreditou e deram boas risadas, mas os soldados chegara e se acomodaram na cadeia, eram três praças e um anspeçada com cara de mau.
A primeira semana passou em paz, mas no sábado um briga começou no boteco do Zico e quando dois soldados apareceram para controlar o tumulto foram agredidos e expulsos do lugar, mas minutos depois o tal anspeçada apareceu com seus soldados e um chicote na mão direita e um fuzil na esquerda e começou a usar o chicote em todos os presentes.
Passado o momento de surpresa tentaram reagir, mas receberam tiros, dois brigões morreram e oito foram levados para a cadeia; o povo se reuniu em frente a cadeia velha para protestar contra as prisões, mas o mal-encarado anspeçada saiu na janela e disse: povo de São João Profeta, não estou aqui para brincar, sumam daqui agora.
Tentaram protestar , mas se calaram quando os soldados apareceram armados e atiraram para o alto como aviso e o anspeçada disse: a lei chegou para ficar e de hoje em diante tratem de se comportar ou vão se dar mal, porque a cadeia está aberta para receber os brigões e agora deixou de ser a cadeia velha, é a cadeia nova as ordens de vocês.
Uma semana depois os presos foram soltos e contaram aos amigos que na mesa do anspeçada tinha um quadro com a seguinte inscrição: quem entrar aqui e disser que não apanhou, mentiu; o povo se acomodou, as brigas terminaram e a paz reinou na Vila de São João Profeta, com as bênçãos da lei e o som do chicote do façanhudo anspeçada Julião.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil