SOB A LUZ DA LAMPARINA

SOB A LUZ DA LAMPARINA

Ritania era uma menina esperta e alegre, durante o dia ela cantava, dançava, pulava corda, brincava o tempo todo com as amigas ou mesmo só, ela não parava e Andrelina sua mãe, dizia: Para menina, para um pouco, parece que tem um bicho carpinteiro dentro de você, cruzes, mas a menina continuava se agitando e incomodando os outros.

Mas quando a noite chegava, ela mudava de comportamento, porque naquela vila a escuridão imperava e a luz que iluminava parcamente as casas, era a que vinha de modestas lamparinas; iluminar bem as lamparinas não iluminavam, mantinha os cômodos das casas em uma espécie de penumbra bastante assustadora.

E era essa luzinha que assustava Ritania, porque a lamparina desenhava figuras estranhas nas paredes com a grossa fumaça do querosene que a alimentava, era uma fumaça negra e mal cheirosa que em contraste com a pouca luz que espalhava, formava desenhos grotescos e assustadores que apavoravam a menina.

Para completar o drama noturno de Ritania, sua velha avó Alzirina contava historias apavorantes de fantasmas, sacis, lobisomens e mulas sem cabeça e a velha descrevia com detalhes o ruído das correntes arrastadas pelos fantasmas, os assovios dos sacis, os uivos dos lobisomens e os ruídos dos cascos das mulas sem cabeças.

Quando a Vó Alzirina encerrava a assustadora hora do conto, Ritania cobria a cabeça com os lençóis e suava frio de medo até adormecer, no dia seguinte acordava agitada e o dia todo corria e aprontava com suas travessuras, mas ninguém suspeitava que a causa de tanta agitação, fosse a luz difusa da lamparina e os apavorantes contos da avó.

Além da pouca luz, as lamparinas enchiam de fuligem negra as vigas do teto , as paredes das casas e os narizes das pessoas, ela fazia de tudo, menos iluminar direito; o tempo passou, passou e a luz elétrica chegou até aqueles cafundós e foi um alivio, as lamparinas foram aposentadas, as casas pintadas e os narizes limpos.

Mas o ganho maior foi a chegada dos primeiros rádios, que substituíram com suas músicas alegres e suas novelas, as assombrosas historias de Vó Alzirina; Ritania passou a dormir serenamente, seus modos agitados desapareceram e se tornou uma menina calma e bem educada, para tranqüilidade de sua mãe. Bendita luz elétrica, ô coisa boa.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 12/10/2014
Código do texto: T4996540
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