JOANA CHORONA
JOANA CHORONA
Na antiguidade as carpideiras eram mulheres contratadas para ir aos velórios e chorar, gemer e gritar pelos mortos e era normal as famílias se pouparem de todo aquele berreiro, porque seus mortos eram pranteados e homenageados pelas carpideiras; para as pessoas desse século parece estranho esse costume da Grécia e Roma antigas.
Nos velórios modernos, o que se vê são as pessoas conversando, rindo e aproveitando a boca livre, porque comida e bebida não pode faltar, mas tristeza legitima dificilmente se encontra, porque até as famílias dos mortos choram pouco, se contendo para não gritar, porque está fora de moda exagero de lagrimas, gritos e desmaios, não é elegante.
Na cidade de Santana da Misericórdia , as carpideiras não teriam o que fazer, porque Joana Chorona mora lá e é freqüentadora assídua de velórios e sua presença resolve o pouco choro, como as chuvas de março resolvem a pouca água dos rios; quando morre alguém as pessoas olham aflitas para a porta da casa , para ver se a Chorona está chegando.
O alivio é geral com a chegada da mulher, porque ela entra solenimente vestida de preto, enrolada em um enorme chalé, se aproxima do falecido, se benze e começa a rezar e a chorar, derrama litros de lagrimas e todos os presentes, familiares ou não choram junto com ela e assim o morto é pranteado como se deve, porque morrer e ninguém chorar é triste.
Chorar demais é coisa perigosa, porque pode-se desidratar, mas Joana era cautelosa e de vez em quando ela freva o choro e se dirigia a cozinha, onde comia e bebia de tudo que encontrasse com um excelente apetite, tomava um digestivo de Vinho do Porto se o morto fosse abonado ou uma modesta cachacinha se o falecido fosse pobre e voltava ao choro.
Durante a noite toda ela cumpria seu ritual de choro, orações e muita comida e bebida e agüentava até o falecido ser enterrado, muito bem lamentado por ela e pela familia e amigos; ela se despedia da familia enlutada, que agradecia sua inestimável presença e ela se retirava em passos vagarosos, para se preparar para o próximo falecimento da cidade de Santana da Misericórdia.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil