A Flor das Divindades

Taloim escalou o rochedo e, banhado de suor, recostou-se numa palmeira, aproveitando a deliciosa sombra e o vento murmurante, enquanto vislumbrava a paisagem encantadora que se estendia até onde sua vista alcançava. Demorou dois dias e uma noite para atingir o ponto máximo, pois, como previra Haganan, a vidente da tribo, ali nas proximidades encontraria a exótica flor das divindades, única cujo perfume por si só curaria a rara doença que acamara sua jovem pretendente, a nativa Manaiá.

O intrépido jovem lembrou-se das últimas palavras da velha curandeira, antes de iniciar sua jornada pelo intrincado caminho das trilhas: “Conseguirás a flor não sem antes desfazer-te da pedra do mal!”

O enamorado guerreiro não compreendera bem a mensagem, mas como padecia de amores, correu em busca da almejada planta que traria sua amada à vida. Era conhecido entre os seus como o mais valente e impiedoso dos homens, famoso pelas atrocidades praticadas contra as suas vítimas.

Após uma extensa caminhada através da mata, abrindo caminho com um amolado facão, sentiu-se cansado e meio que perdido, sem rumo algum.

Sentou-se próximo a uma gruta enquanto punha os pensamentos em ordem e avistou um bando de macaquinhos se exibindo com suas brincadeiras e estripulias. Seu primeiro pensamento foi acabar com a baderna, dizimando os pequeninos fanfarrões com a sua arma mortal.

Quando levantou o braço para executar o primeiro bichinho, uma voz em forma de eco vinda da gruta alcançou-lhe os ouvidos, refletindo sempre: “Da pedra do mal! Da pedra do mal! Da pedra do mal!”...

Instintivamente começou a visualizar as feições da velha, uma leve transformação aquietou o seu ânimo e ele reteve o ato.

Como por encanto começou a saltitar junto com a bicharada, imitando suas peraltices e de quando em vez acariciava um e outro, sentindo-se extremamente feliz com sua nova atitude.

De repente o grupo trapalhão fechou-se em círculo, acercando-se de um montículo de grama onde no topo brotava uma flor de rara beleza e inigualável perfume.

Ele sentiu que acabara de descobrir a flor das divindades!

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 10/10/2014
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