MARIA CACHORRA
MARIA CACHORRA
As pessoas chegam a esse mundo sem bagagem e no viver vão acumulando coisas boas e más, coisas materiais e espirituais, mas algumas ao chegar a seu fim deixam boas e alegres lembranças e outras deixam lembranças amargas e sua história é contada e recontada como aviso aos que chegaram depois dela, como se nunca devesse ser esquecida.
Maria Lombardi nasceu e cresceu linda, aos dezoito anos era maravilhosa, tudo nela era perfeito e era sem sombra de duvida a jovem mais bonita da pequena cidade de Campo Dourado; Maria era descendente de italianos e parecia uma madona de uma tela de Ticiano, sua beleza era total, porque pele, olhos, cabelos, dentes e corpo, tudo perfeito.
Com aquela aparência irretocável, ela era desejada por todos os rapazes da cidade e ninguém pensava que a aparência física, as vezes esconde um interior escuro, ninguém é bonito por fora e por dentro o tempo todo; Maria podia escolher quem ela quisesse para marido, mas para surpresa geral ela escolheu um senhor de quase cinqüenta anos, que se chamava Giovani Pierini.
O escolhido era uma pessoa comum, nem feio e nem bonito e seus únicos atrativos eram: uma bem sortida loja de tecidos e uma bem nutrida conta bancaria; o casamento se realizou com muita pompa e circunstancia e a bela Maria foi morar em uma linda casa, com todos os confortos possíveis, com o marido e um primo que ele criou e a vida seguiu em frente.
Maria era a mais bem vestida mulher da cidade e suas jóias causavam inveja, pois o apaixonado Giovani nunca parava de presentear a jovem esposa, na aparência o casamento era um sucesso, mas Giovani viajava sempre para centros maiores para abastecer sua loja e na volta de uma dessas viagens ele surpreendeu sua Maria na cama com seu primo.
Desesperado ele arrastou Maria pelos cabelos e atirou na rua, expulsou o primo traidor depois de lhe dar uma grande surra e jogou as roupas dos dois pela janela, foi um escândalo nunca visto na cidade e o povo olhava espantado toda aquela violência; Maria procurou abrigo com sua familia, mas os Lombardi muito envergonhados com o ocorrido, não a acolheram.
Toda a cidade lhe virou as costas e o único lugar onde ela foi aceita, foi na casa de tolerância da cafetina Rosana, onde ela se tornou uma prostituta e durante alguns anos ela ficou por lá, mas com a vida desregrada e as bebedeiras, sua beleza desapareceu e como os clientes da casa se cansaram dela, Rosana a expulsou e ela ficou vagando pelas ruas da cidade.
Sempre bêbada, ela dormia em qualquer canto e comia o que alguma pessoa caridosa lhe dava e como sempre repartia sua comida com os cães da rua, eles passaram a acompanhá-la sempre e por isso ela ganhou o apelido de Maria Cachorra, ela viveu assim por algum tempo e sua história terminou, quando foi encontrada morta em uma esquina, rodeada por seus últimos amigos, os cães de rua.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil