Uma Ideia Brilhante
Seu Nicanor tinha uma saúde de ferro, segundo o dizer da vizinhança, apesar da idade avançada e o término do exaustivo ofício de educar a juventude. Mestre de marca maior, podia se gabar do seu prestígio adquirido dentro das instalações escolares, fato que o enchia de honra e orgulho.
Incomodava-o singularmente uma tosse sequenciada, resquício dos anos de tanto falatório, distribuindo o seu farto conhecimento.
Não havia de ser nada, a gente acostuma com todo tipo de coisa. Ademais, boas lembranças deixavam sua alma leve. Era fácil vê-lo fitar pontos remotos com o olhar ausente, o pensamento vagueando saudosamente pela trilha do passado.
“Seu Nicanor amanheceu daquele jeito hoje, o olhar teso para o tempo, parece não enxergar coisa nenhuma, escondido dentro dele mesmo!” – comentava a responsável pela faxina da casa.
“Deixa ele quieto, ele gosta de brincar de esconder, volta e meia ele mergulha no lago de suas doces lembranças e demora a retornar.” – ordenava dona Ceiça, a fiel companheira.
A mulher da faxina nada dizia, apenas balançava a cabeça involuntariamente enquanto varria o pó.
Mas Irene não conseguia aquietar a mente, ficava a cismar em meio à poeira, arquitetando uma maneira de entreter o velho professor.
De tanto pensar, teve uma ideia genial: utilizou a velha garagem, juntou algumas cadeiras e tamboretes, improvisou um quadro e convidou seu Nicanor para ficar em pé, lá na frente.
Ela viu entusiasmo nos olhos do velho. Havia matado a charada. No outro dia iria encher o compartimento de meninos e meninas pobres da comunidade. Seu Nicanor não carecia mais se esconder dentro de si mesmo.