PESADELO EGÍPCIO

Silvia havia encontrado Samir em um desses sites de relacionamentos.
Vinham conversando ao telefone, trocando mensagens por e-mail e se vendo e falando pelo Skype.
Estavam ambos empolgados em estabelecer um novo relacionamento.
Ele estava divorciado havia poucos anos e ela há pouco mais de seis meses. Desde que ficara só, passara a pensar em encontrar um novo companheiro. Seu casamento não foi feliz, mas gostaria de encontrar a felicidade em segunda tentativa.
A solidão, a falta de alguém para dividir a rotina, sair, conversar e, até de sexo, já sentia falta.

Samir era falante, sedutor e parecia ter charme.
Marcaram de se encontrar no próximo sábado. Ele viria apanhá-la e iriam a uma grande lanchonete de fast-food tomar uma cerveja, comer algo e conversar.
À hora combinada ele ligou dizendo que já a esperava no carro em frente ao prédio onde ela morava. Silvia se olhou no espelho mais uma vez, gostou do que viu e desceu. Havia colocado uma roupa bonita, arrumado o cabelo e feito as unhas no salão e caprichado na maquillage que lhe realçava os olhos azuis, que diziam ser seu ponto forte.

Quando viu Samir, ficou ainda mais entusiasmada. Era bonito e parecia mais jovem do que seus setenta anos prometiam. Sua pele era bronzeada - ele era egípcio - e sua origem podia ter parte nisso.
Foi educado, saindo do carro, cumprimentando-a com um beijo na face e abrindo a porta como um cavalheiro.
A lanchonete ficava a uns quinze minutos da casa dela. Ao dar a partida no carro ela viu que ele não colocara o cinto de segurança e chamou sua atenção. Para surpresa dela, ele disse que não usava o cinto.
Imediatamente, acendeu um cigarro e encheu o carro de fumaça. Ela começou a ficar incomodada, pois não fumava.
No caminho para a lanchonete, deve ter fumado mais outros três.
Silvia pensou: "Tudo bem, posso suportar isso."
Chegando à lanchonete, pediu uma cerveja e, antes mesmo de começar a conversa, saiu de seu lugar e veio sentar-se ao lado dela, colocando o braço sobre seus ombros e tentando beijá-la. Tipo nada sutil.
Ela lhe disse que voltasse ao seu lugar, pois nem se conheciam e não queria intimidade assim, tão de repente. Ele se conformou e voltou .

Conversaram um pouco e Samir convidou-a para conhecer sua loja de materiais de construção.Antes precisava passar na casa do filho para apanhar as chaves. Ela concordou.
Ao voltar com as chaves, trouxe para o carro uma latinha de cerveja que foram bebendo pelo caminho.
A princípio Silvia não queria aceitar, pois não era de sua índole transgredir a lei.
Fazia calor e ainda havia cerveja na lata. Ela lhe disse que iria segurá-la para jogar no lixo quando chegassem.
Para seu espanto, ele tomou-lhe a lata das mãos e arremessou-a pela janela do carro.
E ela que era um pessoa que guarda lixo na bolsa até encontrar um lugar para descartá-lo!
Ficou se contendo para não pedir para descer ali mesmo.
Viram a loja e ele a convidou para jantar e prologarem o tempo juntos.
Com esforço, Silvia disse Ok. Lá foram eles comer um salmão em um bom restaurante, não antes sem Samir fumar mais alguns cigarros no carro.
Quando a comida chegou, pediu ao garçom para lhe trazer o saleiro e, generosamente, salgou o peixe, que já viera salgado.
Novo espanto! Samir lhe contara que havia passado por uma cirurgia cardíaca poucos anos atrás.

Foi a gota d'água! Aquelas estrelinhas coloridas que ela havia colocado diante dos olhos, na expectativa de encontrar um par para a vida, começaram a se desfazer em pequenos pedaços e a cair lentamente...

Samir era um transgressor nato!
Jamais, jamais, daria certo com ela. Cumpridora da lei, ecochata, ecológicamente correta, não fumante e cuidadosa com a alimentação saudável.
Que decepção! Que tosco!
Ao chegar em casa, chorou e jurou que não queria conhecer mais ninguém!
Aloysia
Enviado por Aloysia em 07/10/2014
Reeditado em 22/10/2014
Código do texto: T4990781
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